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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2025

Memórias das Caldas da Cavaca

  Naquele tempo as termas estavam na moda e eram muitas as pessoas que não passavam um ano sem ir a banhos. Bebiam-se as águas e faziam-se os demais tratamentos que os médicos receitavam: inalações, gargarejos, lavagens específicas do corpo e banhos diversos. A temporada escolhida pelas pessoas que viviam da atividade agrícola era normalmente a segunda quinzena de agosto ou a primeira de setembro, épocas em que os trabalhos na terra davam alguma folga. Para as pessoas da minha aldeia, Rãs , as termas que estavam mais à mão eram as Caldas da Cavaca. Localizam-se no concelho de Aguiar da Beira e pertenciam ao senhor Laires, que nos diziam ser muito rico e que residia em Lisboa. Foi ali, aproveitando as características químicas da água (idênticas às demais existentes ainda hoje na região Viseu Dão Lafões), que aquele empresário criou aquela unidade termal, que ao longo do tempo (até hoje) passou por diversas vicissitudes. Não se tratava de um empreendimento de grande dimensão ...

Romance 'O Volframista': Opinião de João Cruz

  Li, por estes dias,  O Volframista . Novela sóbria e expressiva, escrita num estilo simples, direto e rigoroso, sem artifícios literários. Através de uma linguagem depurada, o autor reconstrói com autenticidade o Portugal rural dos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, centrando-se no comércio — legal e clandestino — do volfrâmio. A narrativa, breve mas intensa, acompanha Abel Fernandes, uma personagem ambiciosa, mas presa ao passado; sedutora, mas frágil; pragmática, mas moralmente vulnerável. Abel encarna o conflito entre o desejo de ascensão social e a rigidez das estruturas da época, tornando-se símbolo da luta silenciosa de muitos durante o salazarismo. O romance destaca-se pela forma como o dinheiro — ganho ou roubado, tesouro enterrado ou aforro escondido — atua como revelador de caráter e catalisador de escolhas. Trata-se, no fundo, de uma poderosa reflexão sobre as pressões económicas, a condição humana e os dilemas éticos num tempo de escassez, desigualda...

Sátão: Feira dos Vinte

  Foto: Rua Dr. Hilário Pereira, 20 de agosto de 1987 Era popularmente conhecida por Feira dos Vinte, a feira anual que se realizava em Sátão no dia 20 de agosto, dia de São Bernardo, feriado municipal desde 1969. Era uma feira que atraía à vila de Sátão milhares de pessoas, vindas das povoações do concelho e dos envolventes. Era miúdo e este dia, o da feira de ano, era sempre esperado com enorme ansiedade. Era um dia bem diferente, que fugia das duras rotinas dos trabalhos agrícolas de verão. Bem me lembro do concurso pecuário e da feira do gado, onde os criadores e os comerciantes da região vinham mostrar, vender e comprar os “tratores” da época, as vacas com que iriam lavrar as terras para se semearem os nabos e plantar as couves do Natal e acarretar o milho para as lajes e as uvas para os lagares, em dornas de madeira. Bem me lembro deste dia, em que o cheiro do frango na brasa e as tiras de carne entremeada nos abriam o apetite logo pela manhã, mas tais iguarias só as ...

Breve crónica sobre incêndios a propósito do Convento da Fraga

  Nota Prévia: Escrevi a breve crónica que se segue depois de uma deslocação que efetuei, há dois dias, ao Convento de Santo Cristo da Fraga, na freguesia de Ferreira de Aves. Ali chegado, as minhas nostalgia e tristeza foram enormes, pois recordei-me da aprazível mancha verde que dali lobriguei quando em 2023 lá estive a recolher pormenores que introduzi no romance O Leitor deDicionários . Agora, depois do designado “incêndio de Sátão” por ali ter passado, do alpendre daquela ermida só se vislumbra terra negra!  BREVE CRÓNICA SOBRE INCÊNDIOS Não tenho por hábito falar publicamente sobre incêndios florestais. É um tema em que as opiniões tendem a extremar-se e em que, quase, não há ninguém que não tenha uma solução para o problema: ordenamento da floresta; “mosaicos” arbóreos resilientes; endurecimento das penas para os criminosos; limpezas e queimadas no inverno; profissionalização dos bombeiros; utilização de “cabras sapadoras”; aumento do número de meios terrestres e aéreos...

Crónica em três atos | Ato 2: Do respeito pelas opções dos outros

Aqui: Para ler o ATO 1 -  Do que fomos, do que somos Olho, daqui. Deste hoje. Deste agora complexo. Que não gosto de ver simplificado com propostas básicas. Com olhares maniqueístas. Preto ou branco. De absolutas certezas. Vejo um povo. Uma nação. Um país que se move. Envolvido nas suas circunstâncias. E a não poder descurar tudo aquilo que o envolve. Nos territórios mais próximos e nos espaços geopolíticos mais distantes. E tudo isto acontece num tempo controverso. Em que tudo é controvertido. Discutido. Contestado. Sob pontos de vista respeitáveis. Muito radicalizados. Mais uns dos que outros. Ao olhar de cada um de nós. Ao nosso. Olhar (de)formado pelas nossas idiossincrasias. Biológicas. Sociais. Culturais. Antropológicas. Geográficas. E sei lá mais o quê. Somos testemunhas de um tempo, este, em que cada palavra, cada frase, cada artigo, uma qualquer lei é pelejada, acareada e dirimida em contendas acaloradas. Com argumentos. Os mais diversos. Hoje somos agentes, atores de um m...

Os luares de janeiro e de agosto

  O luar, ou seja, a luz do Sol refletida pela Lua e que chega à Terra, nem sempre tem a mesma intensidade. Isso depende da posição da Lua e da fase em que se encontra. E a fase da Lua em que a intensidade do luar é maior é na lua cheia, quando a face visível da Lua, que se encontra oposta ao Sol em relação à Terra, está totalmente iluminada. E vai daí o povo encontrou logo os seus provérbios para esse facto. Eis dois ditados populares, semelhantes, para dar corpo à intensidade dos luares de janeiro e de agosto, considerados os mais intensos: “Luar de janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá pelo rosto”. “Luar de janeiro alumia todo o ribeiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá no rosto”. Nota: Hoje, dia 9 de agosto de 2025, é dia de lua cheia. Mais provérbios AQUI e AQUI Foto: CNN

A propósito de comboios na Beira Alta: Cansados de esperanças vãs.

  A 3 de agosto de 1882 foi dia grande para as gentes da Beira, com a inauguração da linha ferroviária que haveria de vir a ligar Portugal à Europa a partir de Vilar Formoso e que tomou o nome de Linha da Beira Alta. Primeiro desde a Pampilhosa e depois desde a Figueira Foz. E uma grande obra teria de ter, como teve, nesse longínquo ano, as mais gradas figuras do país. Precisamente o rei D. Luís e a sua família mais chegada para além dos ministros e conselheiros. O povo, esse, saiu à rua para aclamar e aplaudir. Porém, volvidos que são todos estes anos, faz hoje 142, aqui estamos nós, depois de tantos prometimentos, ainda sem a reabertura de uma linha que nos foi dito que era para estar requalificada e em pleno funcionamento já há muito tempo. Aqui estão os cidadãos de toda esta vasta região, entregues a indecisões, a intermitências, a retóricas ao sabor de todo o tipo de eleitoralismos. De inconseguimento em inconseguimento , os portugueses em geral e os desta alargada beir...

Diz o povo. Provérbios de agosto

  Em agosto toda a fruta tem seu gosto. Agosto, dá o sol no rosto. Agosto, frio no rosto. Luar de janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá pelo rosto. Luar de janeiro alumia todo o ribeiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá no rosto. Em agosto nem vinho nem mosto. Nem em agosto caminhar, nem em dezembro marear. O mês de agosto será gaiteiro, se for bonito o 1.º de janeiro. Primeiro de agosto, primeiro de inverno. Em agosto antes vinagre do que mosto. Quem não debulha em agosto, debulha com mau gosto. PROVÉRBIOS NESTE SITE  |  E NESTE