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Há homens assim! De coração grande, muito grande! Obrigado, Fernandinho!

 


Há homens assim! Que têm o dom de nos encantar! Que conhecemos nos trilhos da vida e que nos marcam para a vida. Para sempre.

Com quem caminhamos lado a lado. Com quem nos partilhamos em interações cúmplices. De ideias. De projetos. De trajetos. De tantas trajetórias feitas em busca de causas que tanto nos uniram. Unem. De tantas lutas travadas. Inglórias, algumas. Vitoriosas, tantas outras.

Sim, falo do Fernando José da Costa Figueiredo. Do Fernandinho. Do senhor Fernandinho. Daquele que foi o grande e incansável obreiro do PS no concelho de Sátão. Daquele que em 1983 assinou a minha proposta de adesão ao Partido Socialista.

Falo daquele com quem percorri, tantas vezes, todas as freguesias do nosso concelho. Com quem palmilhei caminhos recônditos das nossas “Terras do Demo”, como ele dizia, citando Aquilino. Citando aquele que encontrou, sempre, no seio da sua família, em Ferreira de Aves, um porto de abrigo, quando a PIDE lhe queria lançar as garras.

E como me sabia bem a sua companhia! O seu sonho. A sua vontade, permanente, de querer melhorar a sua terra. De querer dar uma vida melhor às nossas gentes. De querer ajudar todos. Todos. O seu coração era enorme. Não sabia dizer que não.

Lembro-me bem da última conversa que tive com ele. Eram tempos de pandemia. Foi há dois anos e meio. Foi junto à sua casa. Numa tarde de sol. Eu disse à dona Amélia que fosse descansada. Que ele ficaria comigo. E ali ficámos. Os dois.

E conversámos. Sobre tudo. Sobre a sua vida. Falou-me de antigamente. Das ligações da família à oposição a Salazar. Da compra do terreno da sua casa. Da fundação dos Bombeiros Voluntários e da Casa do Povo de Sátão. Duas instituições que ainda hoje aí estão e que também tiveram o seu cunho.

Falámos muito. De política. Falou-me do Álvaro Monteiro e do Armando Lopes. Do João Lima e do Junqueiro, do Raul e do Zé. Da nossa a ida aos congressos do PS, ao Pavilhão dos Desportos, a Lisboa. E de negócios. Do ‘pateal’ que ele comprava ali para os lados de Tábua. De uma padaria de que ele foi sócio. E também me falou da separadora de minério de Lamas de Ferreira de Aves. E, sim, foi aí que eu aprofundei a conversa. Foi aí que eu quis saber mais. E a história do roubo de volfrâmio que eu integrei no meu romance O Volframista foi ele que ma contou. Foi ele que me falou do assalto de que tinha sido alvo um carregamento de volfrâmio que ia para Lisboa, destinado aos ingleses.

Há homens assim! Que nos marcam e que nos deixam, por entre a tristeza da sua partida, um travo bem doce da sua passagem pela nossa vida!

Grande abraço, amigo Fernandinho. Até um dia, na terra da verdade!

Acácio Pinto

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