Este romance de José Rodrigues dos Santos leva-nos a uma
viagem ao Portugal dos anos 30 do século passado. A uma viagem a um país
governado sob a mão férrea de Salazar e que tem como principais geografias
Trás-Os-Montes, onde tudo começa, e vai evoluindo por Lisboa, por Penafiel, por
Castelo de Paiva, por Valença e por Espanha, ao tempo embrenhada numa guerra
civil fratricida.
E se a primeira metade do livro se pode considerar um pouco
fastidiosa, sobretudo os tempos de um namoro muito arrastado, muito detalhado,
muito parado, já na segunda parte somos confrontados com loopings permanentes,
com uma sucessão alucinante de acontecimentos e com um infindável e
imprevisível desfecho.
Pelo meio, por entre um filho bastardo e por entre uma
traição marcante que haveria de se constituir como um rude golpe para os
envolvidos, em que a mulher adúltera, a saber-se, seria apedrejada pela voz do
povo, há a polícia política, a PVDE, em permanente atividade de controlo e de
supervisão de tudo quanto acontecia num país em que respirar era um ato de
grande ousadia. É um livro que vale a pena, pela densidade que nos fornece de
uma época portuguesa e do seu contexto social e político e de uma sangrenta
guerra civil em que os espanhóis se viram confrontados entre 1936 e 1939 e na
qual Salazar acabou por tomar partido por um dos lados.
Título: A vida num sopro
Autor: José Rodrigues dos Santos
Editora: Gradiva
Ano: 2008
Páginas: 616
Acácio Pinto