Polémicas à parte sobre Michel Houellebecq, o que é facto é
que, com este seu livro O mapa e o território, este autor francês,
considerado um dos mais importantes escritores europeus deste século, nos
acicata em cada página a acelerar o processo de leitura. A querer conhecer mais
e mais depressa a trama que o autor urdiu.
Bem sei que ele nos confronta com solidão, com amores mal
sucedidos, com temáticas, quiçá, politicamente incorretas (signifique isso o
que significar), com uma forte e permanente ironia à sociedade francesa (ou à
sociedade em geral).
Bem sei que a polémica esteve bem acesa pela metodologia
romanesca utilizada neste romance – veracidade dos nomes dos lugares, de
pessoas, de sites, de jornais, de artistas, de amigos, da sua editora – ao
ponto de nos confrontarmos com uma grande sobreposição de muitos detalhes
reais; ou não será que, muitas vezes, a realidade mais parece uma ficção?
Digam o que disserem, e os críticos foram e são muitos,
Michel Houellebecq com este livro ganhou o prémio Goncourt, o mais importante
prémio da literatura francesa. É um livro em que ele próprio entra como
personagem (ou será um seu homónimo que também era escritor?), numa interação
com o seu personagem principal, um artista, Jed Martin, que se revelaria
fatídica.
Mesmo que não gostemos dos temas (morte, solidão, desamor) e
que possamos entender que no livro há um certo desprezo pela vida, creio que os
leitores não deixarão de sentir, no final, um travo de beleza e de uma
carinhosa compaixão pelos murmúrios que nos ficam de algumas personagens, ou de
alguns acontecimentos do quotidiano, que tantas vezes mais parece, de facto,
uma ficção!
Recomendo, vivamente!
Editora: Alfaguara | Ano: 2022 | Páginas: 384
Recensão: Acácio Pinto