Diferentes olhares sobre o nosso mundo


[Texto de Abílio Louro de Carvalho | ideiaspoligraficas.blogspot.com]

Deus criou o mundo; as criaturas povoam-no e usufruem dele.

Os arquitetos desenham magistralmente o mundo; os engenheiros executam-no em boa segurança se não houver azar.

Os filósofos pretendem interpretar o mundo; os políticos conduzem-no, às vezes bem mal, e poderiam transformá-lo.

Os cientistas pesquisam o mundo e dão-no a conhecer; os técnicos mexem-no e remexem-no.

Os agricultores e os mineiros revolvem o mundo; os operários completam-no e diversificam-no.

Os artistas recriam e embelezam o mundo; os poetas sentem-no e cantam-no.

Os geógrafos e os cosmógrafos descrevem o mundo sincronicamente; os historiadores narram-no ao longo dos milénios em notável, embora sempre discutível, diacronia.

Os antropólogos explicam o lado humano do mundo; os sociólogos tentam entendê-lo e têm a veleidade de o avaliar.

Os geólogos minam o mundo e pesquisam os seus lugares mais recônditos; os biólogos vivem-no e captam-lhe os segredos mais bem urdidos da vida. 

Os físicos conhecem o mundo, palpam-no e equacionam as suas leis; os matemáticos numeram-no e codificam-no.

Os geómetras medem o mundo, figuram-no e lançam as bases de outros patamares do mundo; os construtores diversificam-no e alteram o seu ordenamento.

Os crentes rezam o mundo e zelam pela sua integridade; os músicos entoam-no e enchem-no de melodia, harmonia e ritmo.

Os turistas percorrem o mundo por curiosidade e necessidade de repossuo; os peregrinos sofrem-no e calcorreiam-no alegremente por motivos religiosos e por indizível necessidade de o apreenderem, de se purificarem e de o purificarem.

Os inimigos atacam o mundo; os cosmófilos defendem-no.

Os depredadores destroem o mundo e desmantelam os seus ecossistemas; os ecologistas e ambientalistas preservam-no e protegem-no.

Os militares, em nome dos políticos, armam o mundo e tanto o podem reordenar e preservar como o podem danificar e destruir; os civis usufruem-no, às vezes, de forma anárquica ou de modo narcisista.

Os estrategos planeiam e projetam o mundo; os operacionais reorganizam-no e retocam-no.

Os exploradores procuram o mundo e, nele, os sítios mais inóspitos; os missionários tentam convertê-lo sob a moção do Espírito. 

Os malandros gozam o mundo; os diligentes desenvolvem-no.

Os empresários organizam-se no mundo e ganham-no; os trabalhadores sustentam-no.

A máquina dinamiza o mundo; a inteligência e a vontade controlam-no e avaliam-no.

Os sábios saboreiam o mundo e ensinam a conhecê-lo e tomar-lhe o gosto; os curiosos e humildes aprendem-no.

Os grandes governam direta ou indiretamente o mundo; os pequenos aguentam-no.

Os contabilistas calculam o mundo e conferem os resultados das atividades mundanas; os administradores gerem-no, nem sempre bem.

Os economistas perspetivam o mundo; os financeiros orçam-no, compram-no e vendem-no.

Os parcimoniosos poupam o mundo; os pródigos esbanjam-no.

Os críticos questionam o mundo; os jornalistas noticiam-no e reportam-no.

Os descontentes queixam-se do mundo e fogem dele; os corajosos enfrentam-no e pacificam-no.

Os maledicentes esconjuram o mundo e tentam fugir dele; os bendizentes elogiam-no como obra divina e humana e abençoam-no.

Os fracos temem o mundo; os fortes encaram-no de olhos serenos e confiantes.

A matéria constitui o mundo físico; o espírito transcende-o e aponta para um mundo novo.

Os poderosos pensam que são donos do mundo; os cidadãos sabem que são administradores, habitantes e peregrinos.  

Os seres humanos de mal com a vida amaldiçoam o mundo, culpam-no de tudo e fogem dele; os seres humanos de olhar puro contemplam-no e gostam dele, porque sabem que Deus governa, ilumina e providencia.

E quem pode efetivamente renovar e transformar o mundo?

O Espírito que sopra onde quer e faz ouvir a sua voz (Jo 3,8) e Aquele que renova todas as coisas (cf Ap 21,5) ou, dito de outro modo, Aquele que enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, não para condenar o mundo, mas para o salvar (Jo 3,17) ou, ainda, Aquele que veio para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância (cf Jo 10,10).

2021.03.17 – Louro de Carvalho