Avançar para o conteúdo principal

Votos de um desafogado 2017

Antes do slogan “há mar e mar há ir e voltar”, Alexandre O’Neill propôs, sem êxito, “passe o verão desafogado”.
E se aqui trago este anúncio desse magnífico poeta e publicista criativo tem a ver com o ano que agora se inicia, com 2017, e que muito gostaria que fosse mais, ainda mais, desafogado para Portugal e para os portugueses.
E que fosse desafogado, literalmente, no verão, mas desafogado todo o ano, na sua vertente de mais conforto, de mais autonomia, de melhor poder de compra, afinal de mais uns trocos na carteira de todos quantos pagaram e estão a pagar (e que são sempre os mesmos!) esta crise dura e cínica. Sim, cínica… pois não “afogou” um que fosse dos the world’s richest, listados pela Forbes, nem um dos nossos mais ricos, listados pela Exame. Ao invés, estão todos mais nédios, brunidos e com as contas bem mais obesas.
E não me venham com a prédica de sempre: que eles são bons gestores, que eles têm elevadíssimas responsabilidades, que eles correm muitos riscos, que, que, que…
Com certeza que sim. Mas a quem tiro o chapéu é àqueles, sim a todos estes e aqueles, que no seu quotidiano, no dia-a-dia, tantas vezes a meio do mês têm que decidir a forma de se alimentar, de pagar a conta da eletricidade, de vestir os filhos, de comprar os medicamentos e de saldar as contas (pornográficas!) das cartelizadas operadoras de telecomunicações, que depois distribuem os lucros, chorudos, pelos futebóis e pelos investidores “responsavelmente” sediados num qualquer paraíso fiscal.
É perante estes que me vergo, perante os que têm que deixar, quantas vezes, de ir “a festas” para poderem comer uma sopa e um minguado naco de carne. É para estes que desejo um ano desafogado, com mais poder de compra, com uma melhor sina, que não seja sempre negro fado.
Votos, igualmente, de que, desafogado, signifique direcionar a política para onde ela, de facto, deve estar direcionada, para reduzir – nunca para aumentar, como tem sido o caso – esse colossal fosso entre os mais ricos e os praticantes forçados, cada vez em maior número, do salário mínimo nacional, quando não, de muito menos.
É que o cerne, o busílis da questão, em Portugal, na Europa e no mundo, desta deriva populista e radical que atravessamos pode ter muitas explicações mas há uma que é o seu lastro: a injusta e iníqua distribuição da riqueza que condena e “afoga” sempre os mesmos às dificuldades e à pobreza!

Os meus votos de um desafogado 2017!

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...