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‘Mexer os cordelinhos’: Em exibição num cinema perto de si!

Quem não conhece a expressão popular “mexer os cordelinhos”? Quem nunca a escutou? Quem não conhece alguém que já tenha usufruído ou sido prejudicado pelos cordelinhos que alguém manobrou?
“Mexer os cordelinhos” tem, aliás, o mesmo efeito prático que a mais que celebrizada locução “meter uma cunha”.
E não se pense que este fenómeno está em regressão. Que tem os dias contados. Ele é tão antigo quanto o homem e tem vindo a consolidar-se e a sofisticar-se nestes tempos da hipermodernidade.
É assim como que uma atividade secundária para uns, mas a tempo inteiro para tantos outros.
Mas é sempre uma atividade que funciona no meio de duas vontades. De quem mexe os ditos ou mete a cunha, como se queira, e de quem deixa que lhe peguem na mão. De quem aceita subjugar-se. Servilizar-se, servindo-se.
São tráficos de influência. Corrupção. Peculato.
Nuns casos para receberem umas pequenas benesses. Para ganharem uns pechisbeques. Para fazerem um estágio em que têm que devolver a “massa” ao “magnífico” patrão. Outros não. Outros é mesmo para “traficarem” á séria. Para ganharem “diafanamente”, de preferência, aqueles negócios que verdadeiramente contam. Para ficarem com os diamantes da jangada de pedra.
Estamos perante um modo de vida. Diário. De tantos cidadãos. Uns mais nossos conhecidos do que outros. Uns mais “regulares” cumpridores dos ensinamentos bíblicos e sociais e outros verdadeiramente despudorados. Uns “trabalhando” lá longe. Bem além da cordilheira central. Outros aqui mesmo ao lado. Nas beiras da nossa vida.
Uns atuando mais em fundos estruturantes e estruturais, outros nos dinheiros da nação. Uns indo aos bolos regionais, outros abastecendo-se nas contas municipais.
E assim sendo, está-se mesmo a ver que uns atuam no paço. Outros alimentam-se nos paços. Uns nos politburos. Outros nos gabinetes da administração. Uns em sofás à volta de mesas de centro. Outros em cadeirões à volta das mesas em pé de galo.
E pronto, como tanto gostamos de dizer, são todas “boas pessoas”, porém as pessoas boas, essas, levam sempre com a porta na cara!
É este o fado tão português em exibição permanente num cinema próximo de si.

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