Assinala-se neste dia 2 de outubro de 2025 o centenário do nascimento do incontornável escritor, da segunda metade do século XX, José Cardoso Pires. Um homem independente e que não compactuou com as correntes literárias do seu tempo. Era, nesse apeto, um escritor saudavelmente desalinhado, mas sempre rigoroso na escrita e no tratamento das temáticas que o inspiravam, a realidade política e social do Estado Novo, em que viveu várias décadas da sua vida, o que lhe valeu ter vários livros censurados. Nascido em Vila de Rei, o concelho que se reclama como aquele que tem a maior centralidade no nosso país, ou não fosse ali que se localiza o marco geodésico da Melriça, considerado o Centro Geodésico de Portugal, Cardoso Pires, cedo rumou à capital, onde foi desempenhando diversas funções e escrevendo. Dos seus livros, destaco Hóspede de Job , O Delfim , A Balada da Praia dos Cães , Dinossauro Excelentíssimo , entre tantos outros. Mas aquele que guardo, ainda hoje, é o seu último li...
Fazer uma audiência à memória nos espaços onde convivemos com pessoas, com as pessoas de quem gostávamos e com quem partilhámos tantos momentos, tantos sabores e saberes, tantas cumplicidades, é um daqueles atos que nos conforta, ampara e alimenta. Ali, as imagens sucedem-se, os diálogos atropelam-se e a catadupa de emoções assola-nos e consola-nos perante as cenas que nos levam até esse ontem tornado, subitamente, tão agora. É assim como que uma transmutação que sofremos, tornando-nos atores tão reais desse filme imaginário produzido e realizado pela memória, pela nossa memória. Vem isto a propósito da visita que fiz, com amigos, recentemente, à Gralheira. Ao concelho de Cinfães. Às mágicas montanhas do Montemuro. Ao bucolismo das arouquesas soltas na serra. À tranquilidade do silêncio só cortado pelo longínquo toque das campainhas dos animais no pasto. À rusticidade do colmo como subtelha para aconchegar as casas de granito moreno. À autenticidade de homens e mulheres em solidári...