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DESTAQUES

José Cardoso Pires – um escritor desalinhado

  Assinala-se neste dia 2 de outubro de 2025 o centenário do nascimento do incontornável escritor, da segunda metade do século XX, José Cardoso Pires. Um homem independente e que não compactuou com as correntes literárias do seu tempo. Era, nesse apeto, um escritor saudavelmente desalinhado, mas sempre rigoroso na escrita e no tratamento das temáticas que o inspiravam, a realidade política e social do Estado Novo, em que viveu várias décadas da sua vida, o que lhe valeu ter vários livros censurados. Nascido em Vila de Rei, o concelho que se reclama como aquele que tem a maior centralidade no nosso país, ou não fosse ali que se localiza o marco geodésico da Melriça, considerado o Centro Geodésico de Portugal, Cardoso Pires, cedo rumou à capital, onde foi desempenhando diversas funções e escrevendo. Dos seus livros, destaco Hóspede de Job , O Delfim , A Balada da Praia dos Cães , Dinossauro Excelentíssimo , entre tantos outros. Mas aquele que guardo, ainda hoje, é o seu último li...
Mensagens recentes

Na Gralheira, em audiência à memória!

Fazer uma audiência à memória nos espaços onde convivemos com pessoas, com as pessoas de quem gostávamos e com quem partilhámos tantos momentos, tantos sabores e saberes, tantas cumplicidades, é um daqueles atos que nos conforta, ampara e alimenta. Ali, as imagens sucedem-se, os diálogos atropelam-se e a catadupa de emoções assola-nos e consola-nos perante as cenas que nos levam até esse ontem tornado, subitamente, tão agora. É assim como que uma transmutação que sofremos, tornando-nos atores tão reais desse filme imaginário produzido e realizado pela memória, pela nossa memória. Vem isto a propósito da visita que fiz, com amigos, recentemente, à Gralheira. Ao concelho de Cinfães. Às mágicas montanhas do Montemuro. Ao bucolismo das arouquesas soltas na serra. À tranquilidade do silêncio só cortado pelo longínquo toque das campainhas dos animais no pasto. À rusticidade do colmo como subtelha para aconchegar as casas de granito moreno. À autenticidade de homens e mulheres em solidári...

Sobre Quiaios: o que diz o dicionário Portugal Antigo e Moderno

Pinho Leal, no seu dicionário Portugal Antigo e Moderno, editado em 1874, onde se refere a “todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal”, escreve o seguinte sobre Quiaios: QUIAIOS – freguesia, comarca e concelho da Figueira da Foz (foi da mesma comarca, mas do concelho de Maiorca, suprimido), 40 quilómetros ao ONO de Coimbra, 210 ao N de Lisboa, 950 fogos. Em 1757 tinha 300 fogos. Orago S. Mamede. Bispado e distrito administrativo de Coimbra. O prior de Santa Cruz de Coimbra apresentava o vigário, que tinha 200$000 réis de rendimento. É povoação muito antiga e foi couto, ao qual o rei D. Manuel deu foral, em Lisboa, a 23 de agosto de 1514 (Livros dos forais novos da Extremadura, fl. 95, v., col. 1,º).   É terra muito fértil em todos os géneros agrícolas do nosso país. É nesta freguesia a célebre lagoa do Bom Sucesso. Ora, pelo que precede, poderemos concluir que Pinho Leal não aprofundou os dados históricos sobe a freguesia de Quiaios ao contrário daquilo que f...

Diz o povo. Provérbios de outubro

  Outubro quente traz o Diabo no ventre. Em Outubro ou secam as fontes, ou passam os rios por cima das pontes. Em Outubro o lume já é amigo. Pelo São Francisco (4 de outubro) semeia o centeio e o trigo; e a velha que o dizia, já semeado o tinha. Pelo S. Simão (28 de outubro), favas no chão. Outubro chuvoso faz ano venturoso. Pelo São Simão e São Judas (28 de outubro) já colhidas estão as uvas. Em Outubro centeio ruivo. Em Outubro pega tudo. Em Outubro sê prudente: guarda o pão, guarda a semente. PROVÉRBIOS NESTE SITE  |  E NESTE

Uma incursão até à Orca de Forles

  Após uma refeição bem degustada na Tasca Alentejana, em Águas Boas, e depois de uma sobremesa condimentada por uma saborosa tertúlia entre livres-pensadores, eis que a orca de Forles, a norte do concelho de Sátão, ali estava mesmo à mão para uma visita! Bem, bem… mesmo à mão nem por isso! Idos de Forles e depois de nos ser anunciada a 1700 m de distância eis que as encruzilhadas surgiram e nem mais uma placa indicativa, para quem ia por aquele caminho. Com recurso ao Google Earth lá conseguimos chegar. A Orca de Forles, um dos primeiros dólmens da Beira Alta a ser inventariado e escavado em 1896 por Leite de Vasconcelos , esse vulto da arqueologia, apresenta-se hoje como um monumento restaurado, supostamente com a sua configuração e traça inicial. Como os demais da Beira Alta “a primeira fase de uso deste monumento deve ter acontecido há cerca de seis mil anos.” Porém, a maior parte dos utensílios e artefactos exumados nas escavações de 2020/21, que deram origem a esta re...

Os que nasceram no nosso ano são o nosso melhor espelho

  Há uns largos anos que um grupo (sempore aberto) de nascidos em 1959, de Sátão e arredores, é convocado para assinalar a passagem de mais um aniversário, o que não é novidade, pois os dos restantes anos fazem exatamente o mesmo. Não quero, com esta despretensiosa crónica, dizer-vos, apesar de ser uma verdade óbvia, facilmente verificável em qualquer polígrafo, que a colheita de 1959 é a pior de todas, à exceção das demais! Não fiquem magoados os restantes, mas é verdade. Cada um de nós — os de 1959 — é um poço de virtudes. Mas deixemo-nos desta conversa até porque eu bem sei o que dizem os que nasceram em todos os outros anos! Portanto, encerremos esta parte com um empate! Bem, mas depois deste breve proémio, vamos lá então ao meu ponto, este bem mais sério, que radica na conversa que temos connosco próprios quando vamos a estas comemorações ou quando de lá vimos e rebobinamos o filme do dia. É que, por mais que julguemos o contrário, o tempo passa, passou, e estes enco...

Fontes de Castelo Branco em finais do século XIX, segundo Pinho Leal

Transcrevemos aquilo que é dito no 2.º volume do Diccionário de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno , editado em 1874 pela Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia para dar nota das fontes de Castelo Branco na segunda metade do século XIX. Nesta obra composta por doze volumes, o autor aborda aspetos geográficos, estatísticos, corográficos, heráldicos, arqueológicos, históricos, biográficos e etimológicos de “todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande número de aldeias”. Para além de se referir às fontes, Pinho Leal ainda acrescenta as suas qualidades para a saúde das pessoas e dos animais. Ora veja o texto que se segue com ortografia da época: “Entre as varias fontes publicas d’esta cidade, ha uma, a distancia de 2 kilometros ao S., de aguas ferreas, muito recomendadas pelos medicos, para certos padecimentos. A fonte da Graça, de uma só bica, é de agua muito adstringente e dizem que cura a dôr de pedra. Na Deveza, existe um pôço, chamado da Páq...