Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

DESTAQUES

Breve crónica sobre incêndios a propósito do Convento da Fraga

  Nota Prévia: Escrevi a breve crónica que se segue depois de uma deslocação que efetuei, há dois dias, ao Convento de Santo Cristo da Fraga, na freguesia de Ferreira de Aves. Ali chegado, as minhas nostalgia e tristeza foram enormes, pois recordei-me da aprazível mancha verde que dali lobriguei quando em 2023 lá estive a recolher pormenores que introduzi no romance O Leitor deDicionários . Agora, depois do designado “incêndio de Sátão” por ali ter passado, do alpendre daquela ermida só se vislumbra terra negra!  BREVE CRÓNICA SOBRE INCÊNDIOS Não tenho por hábito falar publicamente sobre incêndios florestais. É um tema em que as opiniões tendem a extremar-se e em que, quase, não há ninguém que não tenha uma solução para o problema: ordenamento da floresta; “mosaicos” arbóreos resilientes; endurecimento das penas para os criminosos; limpezas e queimadas no inverno; profissionalização dos bombeiros; utilização de “cabras sapadoras”; aumento do número de meios terrestres e aéreos...
Mensagens recentes

Crónica em três atos | Ato 2: Do respeito pelas opções dos outros

Aqui: Para ler o ATO 1 -  Do que fomos, do que somos Olho, daqui. Deste hoje. Deste agora complexo. Que não gosto de ver simplificado com propostas básicas. Com olhares maniqueístas. Preto ou branco. De absolutas certezas. Vejo um povo. Uma nação. Um país que se move. Envolvido nas suas circunstâncias. E a não poder descurar tudo aquilo que o envolve. Nos territórios mais próximos e nos espaços geopolíticos mais distantes. E tudo isto acontece num tempo controverso. Em que tudo é controvertido. Discutido. Contestado. Sob pontos de vista respeitáveis. Muito radicalizados. Mais uns dos que outros. Ao olhar de cada um de nós. Ao nosso. Olhar (de)formado pelas nossas idiossincrasias. Biológicas. Sociais. Culturais. Antropológicas. Geográficas. E sei lá mais o quê. Somos testemunhas de um tempo, este, em que cada palavra, cada frase, cada artigo, uma qualquer lei é pelejada, acareada e dirimida em contendas acaloradas. Com argumentos. Os mais diversos. Hoje somos agentes, atores de um m...

Os luares de janeiro e de agosto

  O luar, ou seja, a luz do Sol refletida pela Lua e que chega à Terra, nem sempre tem a mesma intensidade. Isso depende da posição da Lua e da fase em que se encontra. E a fase da Lua em que a intensidade do luar é maior é na lua cheia, quando a face visível da Lua, que se encontra oposta ao Sol em relação à Terra, está totalmente iluminada. E vai daí o povo encontrou logo os seus provérbios para esse facto. Eis dois ditados populares, semelhantes, para dar corpo à intensidade dos luares de janeiro e de agosto, considerados os mais intensos: “Luar de janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá pelo rosto”. “Luar de janeiro alumia todo o ribeiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá no rosto”. Nota: Hoje, dia 9 de agosto de 2025, é dia de lua cheia. Mais provérbios AQUI e AQUI Foto: CNN

A propósito de comboios na Beira Alta: Cansados de esperanças vãs.

  A 3 de agosto de 1882 foi dia grande para as gentes da Beira, com a inauguração da linha ferroviária que haveria de vir a ligar Portugal à Europa a partir de Vilar Formoso e que tomou o nome de Linha da Beira Alta. Primeiro desde a Pampilhosa e depois desde a Figueira Foz. E uma grande obra teria de ter, como teve, nesse longínquo ano, as mais gradas figuras do país. Precisamente o rei D. Luís e a sua família mais chegada para além dos ministros e conselheiros. O povo, esse, saiu à rua para aclamar e aplaudir. Porém, volvidos que são todos estes anos, faz hoje 142, aqui estamos nós, depois de tantos prometimentos, ainda sem a reabertura de uma linha que nos foi dito que era para estar requalificada e em pleno funcionamento já há muito tempo. Aqui estão os cidadãos de toda esta vasta região, entregues a indecisões, a intermitências, a retóricas ao sabor de todo o tipo de eleitoralismos. De inconseguimento em inconseguimento , os portugueses em geral e os desta alargada beir...

Diz o povo. Provérbios de agosto

  Em agosto toda a fruta tem seu gosto. Agosto, dá o sol no rosto. Agosto, frio no rosto. Luar de janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá pelo rosto. Luar de janeiro alumia todo o ribeiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá no rosto. Em agosto nem vinho nem mosto. Nem em agosto caminhar, nem em dezembro marear. O mês de agosto será gaiteiro, se for bonito o 1.º de janeiro. Primeiro de agosto, primeiro de inverno. Em agosto antes vinagre do que mosto. Quem não debulha em agosto, debulha com mau gosto. PROVÉRBIOS NESTE SITE  |  E NESTE

A revolução liberal pelo olhar de Senos da Fonseca

  Senos da Fonseca , um polifacetado homem de múltiplos saberes, com várias formações no âmbito da engenharia mecânica e de máquinas navais, tendo desempenhado funções em inúmeras empresas públicas e privadas, com vasta obra publicada, traz-nos, num livro publicada em 2020, o seu olhar sobre os tempos conturbados vividos em Portugal aquando da revolução liberal nas primeiras décadas do século XIX. Trata-se de uma rigorosa narrativa, ainda que breve, “da revolução de 1820 à de 1828”, como nos refere na capa, em subtítulo. O elemento central e fio condutor para esta cronologia histórica, desde D. João VI até D. Pedro IV, passando pela luta fratricida entre liberais e absolutistas, que durante mais de uma década tiveram o país a ‘ferro e fogo’, é Joaquim José Queiroz. Este, natural do seu concelho, Ílhavo, desempenhou um papel proeminente em defesa das ideias liberais, primeiro liderando a sublevação de 16 de maio de 1828 em Aveiro, contra D. Miguel, que soçobrou e depois integran...

Romance 'O Leitor de Dicionários': opinião de João Cruz

Ao concluir a leitura de O Leitor de Dicionários , confesso, senti-me diante de uma obra que ultrapassa o mero exercício narrativo e se impõe como uma verdadeira reflexão sobre o papel da linguagem, da memória e da identidade. O romance não só homenageia a palavra como matéria-prima da existência, como também provoca no leitor, convida-o, a reavaliar sua própria relação com os significados que escolhemos, utilizamos, para interagir e no fundo para construir o mundo. A personagem do Alberto Suídas — leitor obsessivo, quase ritualístico, de dicionários — é, ao mesmo tempo, comovente e simbólica. Alberto Suídas é uma personagem rica e complexa, introspetivo e levemente andrógino, ultrapassa a função narrativa para se tornar numa figura emblemática da relação entre palavra e existência. Procura nos dicionários um significado e um sentido de existir (e vice-versa). A sua história convida a pensar sobre o que significa ler — e o que significa viver através da leitura. No essencial, encarna...