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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2024

Um livro de homenagem à poesia

  Um livro de homenagem à poesia é o subtítulo do livro cujo título principal é Há tantas vidas na vida da vida . O seu autor é José Lapa e foi dado à estampa em junho de 2024. Como já se percebeu, é um livro de poesia. E, claro está, que eu não vou intrometer-me na decisão do autor sobre a ‘toponímia’ adotada para este seu livro. Digo tão só, porque o senti e sinto, depois de o ler, que este livro, para mim, é, de facto, Um livro de homenagem à poesia . E não o é pela qualidade poética e literária dos poemas que nos apresenta, inquestionável! É-o, outrossim, pela decisão do autor, de integrar, no final de cada um dos seus poemas, um excerto de um poema de um outro poeta, qual cereja em cima do bolo. Será que nos quis deixar um epílogo ao seu poema? Um posfácio? Um outro olhar? Bom, seja lá o que for! A mim, soube-me muito bem, no final dos poemas de José Lapa, ler excertos de Manuel António Pina [ Aí, onde não alcançam nem o poeta / nem a leitura / o poema está só. / E...

Uma história necessária | Recessão de José Lapa sobre O Volframista

  [O texto que se segue – recensão sobre  O Volframista  – foi publicado por José Lapa na sua página do Facebook .] Depois de anos e anos de leitura, uma paixão maior na minha vida, desculpem a presunção, há livros que me chegam pela intuição: este Volframista, de Acácio Pinto , chegou-me pelo faro. Não me enganei, nem podia enganar, a mesma presunção literal. Uma obra que sopra, em narrativa clara, as cinzas de um tempo em que se misturam, em cocktail inabalável do pior da natureza humana: crime, ganância, egoísmo, infidelidade, ditadura, guerra. Querem mais? O tempo do negócio do volfrâmio que durante a II Grande Guerra marcou um país bolorento. Este trabalho de Acácio Pinto, numa narrativa solta e fluente, faz da realidade ficção, pouca, e da ficção realidade, muita: linhas muito ténues onde a ficção fica a perder. A este propósito lembro Javier Marias,  “na literatura séria, há cada vez menos ficção” , e ainda, como disse, Rushdie,  “a literatura...

Último livro de poesia de Agostinho Santa é um hino ao Douro!

  Douro - Poemas de Entre Corpo e Alma - livro de poesia de Agostinho Santa, apresentado na Régua Quando o Douro nos chega à alma o corpo é que sofre! É como um feitiço! É, assim, como uma punção que nos captura! Seja em São Salvador do Mundo, seja em São Leonardo da Galafura, seja onde for, o Douro entranha-se até aos ossos, até à medula, em tantas gentes como nós. Depois, está claro, entra no circuito, no sanguíneo, e aloja-se-nos na alma. Vem isto a propósito do último livro de poesia de Agostinho Santa. Apresentado no dia 30 de novembro no salão nobre da Casa do Douro, na Régua, o autor, logo no título, diz-nos que os seus poemas ao Douro, as suas odes telúricas, deixem-me dizer assim, são “de entre corpo e alma”. E, de facto, são. Porém, o autor, não nos esclarece se se trata do corpo e da alma do Douro se dos seus, ou dos nossos. Ou será que esclarece? (…) “Poucos sabem como eu sei / que o corpo que te invejam / não é só corpo / - ossos nervo carne pele e fluid...

Códão e sincelo: duas palavras ameaçadas pelas alterações climáticas

  As palavras também morrem. Todos os dias. Em todas as latitudes e meridianos. E há duas, códão e sincelo , que, em Portugal, no Centro e no Norte, estão fortemente ameaçadas. E, assim sendo, estão a caminho do cemitério da nossa memória, onde jazem, já, muitas outras. Vem esta crónica a propósito destes tempos que vivemos, em que o tempo não se consegue acertar com as estações do ano. Em que os equinócios e os solstícios se transfiguraram. Em que os meses de novembro e de dezembro e tantos outros – todos, afinal – mudaram de conteúdo. Se reprogramaram. Na agricultura, no vestuário, no ambiente, ou seja, na vida. Será que alguém nas terras frias portuguesas tem visto o códão? Tem visto a humidade da terra congelada? Gretada e levantada sobre pilaretes de gelo? E se esse facto é uma miragem, para que nos serve a palavra que traduz essa realidade? E, então, como é que poderemos explicar, ‘analogicamente’, o que é o códão? Essa terra que rangia quando era esmagada pelas resis...