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Último livro de poesia de Agostinho Santa é um hino ao Douro!

 


Douro - Poemas de Entre Corpo e Alma - livro de poesia de Agostinho Santa, apresentado na Régua

Quando o Douro nos chega à alma o corpo é que sofre!

É como um feitiço! É, assim, como uma punção que nos captura!

Seja em São Salvador do Mundo, seja em São Leonardo da Galafura, seja onde for, o Douro entranha-se até aos ossos, até à medula, em tantas gentes como nós. Depois, está claro, entra no circuito, no sanguíneo, e aloja-se-nos na alma.

Vem isto a propósito do último livro de poesia de Agostinho Santa. Apresentado no dia 30 de novembro no salão nobre da Casa do Douro, na Régua, o autor, logo no título, diz-nos que os seus poemas ao Douro, as suas odes telúricas, deixem-me dizer assim, são “de entre corpo e alma”.

E, de facto, são. Porém, o autor, não nos esclarece se se trata do corpo e da alma do Douro se dos seus, ou dos nossos.

Ou será que esclarece?

(…) “Poucos sabem como eu sei / que o corpo que te invejam / não é só corpo / - ossos nervo carne pele e fluidos - // a alma saiu-te pelos poros” (…).

E isto chega?

Bem sei que não esclarece!

O autor ora é terra nua de "escarpas e fraguedos", ora é ventre fecundo "de um eterno mosto"

É que o autor é poeta. Fingidor! É um 'eu' feito deus, que ora está dentro ora está fora. Ora é terra nua de “escarpas e fraguedos”, ora é ventre fecundo “de um eterno mosto”. Ora é geometria com “requebros poligonais” ora é rio “agitado nas águas da natureza brava e cúmplice”.

Mas o trabalhador da palavra, o autor, não se fica por aqui. Por estas dicotomias, olhares, cheiros e sensações. Por vivências e viveres tão sentidos.

Ele não se conforma com essas tão terrenas e humanas questões.

Ele quer, ele quis, ir mais além. Mais fundo. Diluir-se no objeto que nos traz. Quis ser Douro. Quis embrenhar-se na essência do milagre da transformação.

E o que fez?

Convidou-nos (ou confrontou-nos?) para uma ida ao “Silêncio no Armazém”, à “gruta dos sentidos”, afinal à “celebração em altar / - terra maternalmente fecunda - / de gentes que cantam em requiem (…) // - salmos em louvor de um multiplicado deus de suor e sal (…)”.

Pois bem, Agostinho Santa, tu, de facto, és “granito e xisto / genética encruzilhada de fraguedos (…)” mas não tens “coração de pedra”. Ou então, se o tens, como dizes, também tens, outrossim, coração d’oiro, do Douro.

E quando assim é, o corpo é que sofre! Mas sofre de prazer! Do sublime prazer de estar pela alma subjugado, de ser do Douro.

O Douro merece-te, Agostinho, e tu mereces o Douro!

Título: DOURO – POEMAS DE ENTRE CORPO E ALMA –

Autor: Agostinho Santa

Edição: Autor

Ano: 2024

Páginas: 96

Recensão de Acácio Pinto

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