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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2023

A propósito de camas quentes!

  Chegam em carrinhas. Durante a noite. Mochilas às costas. Rostos fechados. E vão para caves onde se deitam, a monte, em enxergas ainda quentes da fornada anterior. Fecham os olhos e são acordados, pouco depois, sem terem tido tempo de dormir. Vão às latrinas a correr. É tempo de partir. De chegarem ao trabalho prometido. De se confrontarem com a dura realidade da nova vida que não é. O tempo passa. As estratégias não. As circunstâncias mudam. Os comportamentos não. Ontem eram os emigrantes portugueses ou magrebinos acamados e enlatados em bidonvilles nos arredores de Paris, de Marselha ou nos vinhedos de Sauterns. Hoje são imigrantes indianos ou filipinos atulhados em quartos bafientos de prédios soturnos; ou de contentores abrasivos no centro de Lisboa ou do Porto; ou nas profundezas de além Douro ou no Alentejo intensivo. De ontem sobraram trabalhadores à mercê de esquemas clandestinos falados em língua estrangeira e pagos com o suor do carregamento de baldes de argam...

Livro "O Volframista" foi apresentado em Penalva do Castelo

  Com o auditório da Biblioteca Municipal de Penalva do Castelo cheio, o livro O Volframista , de Acácio Pinto , teve mais uma tarde de êxito. A abrir o evento, José Pedro Pinto interpretou, em guitarra clássica, um tema da sua autoria, criando um ambiente de grande envolvimento com os presentes, para logo de seguida Vítor Pires deixar, em traços pessoais, a sua leitura da obra, referenciando os aspetos principais da mesma, e deixando igualmente palavras sobre o autor. Efetuou ainda uma similitude entre o enredo do romance e as terras de Penalva do Castelo, mais particularmente, com a freguesia de Sezures, onde o volfrâmio também foi explorado, e onde ocorreram grandes convulsões sociais com as autoridades do Estado Novo, dizendo que a história do livro se poderia muito bem ter ali passado. Depois foi o autor a intervir, deixando aos presentes palavras sobre o processo de escrita do livro e sobre alguns dos factos sociais, económicos e políticos da época em que se passa a trama...

Crónica em três atos: emigração, Partido Socialista e leituras censuradas!

  Quinta-feira, dia 19 de abril de 1973. 1. Era manhã cedo e o sol ainda não subira a linha do horizonte, vindo dos lados da República Democrática da Alemanha e da subjugada, desde 1968, Checoslováquia. Eram seis horas e naquela manhã, como na maioria delas, um ligeiro nevoeiro de fumo das inúmeras fábricas do complexo siderúrgico do Reno e do Ruhr, com humidade à mistura, iria impedir que o português António da Silva visse o sol brilhar, esplendoroso, como acontecia na sua aldeia da Beira Alta. Vivia com tantos outros seus compatriotas nos subúrbios de Colónia e estava a iniciar os rituais de mais um dia de trabalho, longe da sua família que ficara em Portugal. Almejava ganhar algum dinheiro para ter a vida digna que a agricultura, no seu torrão natal, lhe negara. Queria muito formar os seus filhos, construir uma casa e comprar um carro para passear na velhice. Tinha cinquenta anos e não queria andar na Alemanha muito mais tempo. Saltou da cama, lavou a cara, fez a barba com...