Chegam em carrinhas. Durante a noite. Mochilas às costas. Rostos fechados. E vão para caves onde se deitam, a monte, em enxergas ainda quentes da fornada anterior. Fecham os olhos e são acordados, pouco depois, sem terem tido tempo de dormir. Vão às latrinas a correr. É tempo de partir. De chegarem ao trabalho prometido. De se confrontarem com a dura realidade da nova vida que não é. O tempo passa. As estratégias não. As circunstâncias mudam. Os comportamentos não. Ontem eram os emigrantes portugueses ou magrebinos acamados e enlatados em bidonvilles nos arredores de Paris, de Marselha ou nos vinhedos de Sauterns. Hoje são imigrantes indianos ou filipinos atulhados em quartos bafientos de prédios soturnos; ou de contentores abrasivos no centro de Lisboa ou do Porto; ou nas profundezas de além Douro ou no Alentejo intensivo. De ontem sobraram trabalhadores à mercê de esquemas clandestinos falados em língua estrangeira e pagos com o suor do carregamento de baldes de argam...
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