Os partidos que apoiam o governo chumbaram, na Assembleia da República, há um mês atrás, o projeto de resolução do PS, de que fui subscritor, que recomendava ao governo que os espólios dos governos civis fosse entregue ao arquivo distrital do respectivo distrito de modo a garantir a sua preservação, tratamento arquivístico e ulterior disponibilização ao público e ainda que os acervos compostos por obras de arte e demais objectos de relevante interesse patrimonial dos governos civis fosse confiado a museus sitos nos respectivos distritos tendo em conta a vocação destes face ao espólio a entregar.
O governo, agora, ou não fosse uma coligação PSD / CDS, ao ter que decidir sobre esta matéria, decide de uma forma completamente inadequada e a merecer forte censura.
É que o governo optou por entregar as bibliotecas, centros de documentação e arquivos existentes nos governos civis à secretaria geral do Ministério da Administração Interna, num escusado exercício de centralismo que não pode deixar de merecer uma veemente censura.
O projeto de resolução do PS fazia todo o sentido. O espólio que se acumulou nos governos civis durante quase dois séculos, e o de Viseu não é exceção, merecia que ficasse nos distritos respetivos, para consulta, para investigação e simbolizando uma memória viva daquilo que se passou, no final da monarquia, na implantação da república, durante o estado novo e no pós 25 de Abril, em cada distrito. Não é possível fazer a interpretação plena da história dos distritos e da identidade regional sem consultar este espólio que agora se vê por decisão do atual governo “votado ao abandono” numa qualquer sala escura do ministério da Administração Interna, no terreiro do Paço.
Não é assim que se lida com o património cultural, não é assim que se preserva a identidade regional dos territórios, para além de ser um desrespeito inadmissível para com os serviços públicos existentes em cada distrito: arquivos distritais e museus.
(Foto: pbase.com)