Paulo Soares: “Aeródromo de Viseu poderá ser um sucesso para a região e um impulsionador económico”.
ENTREVISTA – PUBLICADA NO DIA 26 de AGOSTO DE 2018, NO JORNAL DÃO E DEMO – COM PAULO SOARES, DIRETOR, À ÉPOCA, DO AERÓDROMO DE VISEU, ENTREVISTA QUE AQUI TRANSCREVEMOS.
Tem 52 anos de idade, é natural de Lamas de Ferreira de
Aves, concelho de Sátão.
Foi piloto e comandante da TAP tendo, entre outra, uma vasta
formação e qualificação na área da aeronáutica e tráfego aéreo nas vertentes
técnicas e jurídicas (licenciatura e mestrado em direito e licenciatura em
ciências aeronáuticas).
Foi vice-presidente do INAC (Instituto Nacional de Aviação
Civil, hoje ANAC, Autoridade Nacional de Aviação Civil).
Diretor da Licenciatura em Ciências Aeronáuticas da
Universidade Lusófona do Porto e docente convidado da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa.
Foi também durante 3 anos o representante de Portugal em
várias comissões e fóruns de aviação civil junto da Comissão Europeia.
É consultor de diversas organizações internacionais,
nomeadamente em África e no Médio Oriente para a área da aviação civil.
Falamos de Paulo Alexandre Ramos de Figueiredo Soares (Paulo
Soares) que desde 2015 vem desempenhando as funções de diretor do Aeródromo
Municipal Gonçalves Lobato, de Viseu.
Foi, pois, com o diretor do aeródromo de Viseu, Paulo
Soares, que Dão e Demo marcou encontro para uma entrevista em torno do
aeródromo, uma infraestrutura do município de Viseu, que, nestes últimos anos,
tem tido um exponencial aumento de aeronaves e de passageiros.
DÃO E DEMO: Como e quando surgiram as funções de diretor do
Aeródromo Gonçalves Lobato, de Viseu?
PAULO SOARES: Assumi a direção do Aeródromo Gonçalves Lobato em 1 de
janeiro de 2015 por convite formulado pelo Presidente da Câmara de Viseu, dr.
Almeida Henriques, para executar um plano de revitalização do Aeródromo
Municipal. Hoje, passados 3 anos, pela sua pujança, dinâmica operacional e pela
forte aposta política da Câmara de Viseu assume-se já, por direito próprio,
como uma infraestrutura aeronáutica regional de importância incontornável.
DD: Já que falou em pujança, passados 3 anos, qual o
movimento do aeródromo?
PS: Os dados falam por si. Voos e movimentos, segundo dados da ANAC: Em
2014 – 273; em 2015 – 1537; em 2016 – 9119; em 2017 – 10.976.
Quanto aos movimentos, importa referir que, dos 10.976 de 2017, foram
1.668 em transporte regular, 6.122 de instrução, 1.550 privados, 12 de
emergência médica, 24 de cariz militar, 836 de combate a incêndios, 666 de
combate a incêndio de helicópteros e 88 de trabalho aéreo.
Portanto, como se vê, temos tido os mais diversos tipos de voo, desde
os de transporte regular, aos de instrução, treino, aos da aviação executiva e
de lazer, passando claro pelos voos dos meios aéreos de combate aos fogos
florestais, visto o aeródromo ser uma das bases principais desses meios aéreos,
não só pela sua posição estratégica com pelas ótimas condições operacionais de
que dispõe.
DD: Tem havido adesão por parte dos viseenses ao transporte
regular Bragança – Vila Real – Viseu – Lisboa – Portimão? Os preços são
competitivos?
“…A LINHA AÉREA REGIONAL É UMA APOSTA GANHA.”
PS: Em 2016, entre embarque e desembarque, tivemos 1706 pessoas e em
2017 tivemos 3008. Este ano de 2018, nos primeiros sete meses, até julho, já
vamos com 1860 pessoas.
Pelos valores do crescimento exponencial de passageiros transportados
de/para Viseu, nomeadamente no verão, a linha aérea regional é uma aposta
ganha. Os preços foram definidos pelo governo nos termos do contrato de
concessão, mas a opinião unânime é que são muito convidativos. Por exemplo, de
Viseu para Portimão e volta, os preços iniciam-se nos 80,00€, de e para Cascais
nos 60,00€.
DD: Qual o tempo de duração da viagem até Lisboa? E até
Portimão?
PS: A viagem para Cascais demora sensivelmente 40 min e para Portimão
acrescem mais 50 minutos devido à paragem intermédia exatamente em Cascais.
“SE O DESTINO É A CIDADE DE LISBOA GARANTIDAMENTE QUE SE CHEGA MAIS
RÁPIDO AO CENTRO DE LISBOA VIA AERÓDROMO DE CASCAIS DO QUE ATRAVÉS DO AEROPORTO
DE LISBOA”.
DD: Mas o facto de o avião ir para Cascais e não para o
aeroporto Humberto Delgado, mesmo em Lisboa, não se demora mais a chegar ao
centro de Lisboa?
PS: Nada disso. Se o objetivo é Lisboa cidade, como destino,
garantidamente que se chega mais rápido ao centro de Lisboa via aeródromo de
Cascais do que através do aeroporto de Lisboa.
Passo a explicar: Desde que o avião aterra em Cascais demoram-se 5
minutos a chegar ao parque de estacionamento em Cascais e em Lisboa nada menos de
15 minutos.
Depois, o operador, Aerovip, oferece, gratuitamente, basta solicitar
aquando da reserva do voo, transporte do aeródromo de Cascais até ao Marquês de
Pombal e vice versa, que em hora de ponta demora cerca de 25 minutos,
podendo-se neste local apanhar o metro para qualquer lado. Já, via aeroporto de
Lisboa, a forma mais rápida de chegar ao centro da cidade é por metro, o que,
sem qualquer tempo de espera nas estações, demora até ao Marquês de Pombal,
pelo menos 40 minutos.
Concluindo, do Aeródromo de Cascais temos 30 minutos e do aeroporto de
Lisboa temos 55 minutos até ao Marquês de Pombal.
DD: E no regresso a Viseu também existe transporte até
Cascais?
PS: Avisando na reserva que se pretende viajar para Viseu, poderá
apanhar o mesmo transporte gratuito no Marquês de Pombal. Terá que lá estar, no
Marquês, 35 minutos antes da hora do voo e entrando na carrinha já não perderá
o avião, ele espera pelos passageiros que vêm no transporte disponibilizado. Já
agora se fosse via Aeroporto de Lisboa, teria, como já referi um tempo de
trajeto de 40 minutos de metro e as formalidades que em cascais demoram 5
minutos em Lisboa de no mínimo 15 minutos, mas com fila no rastreio é
imprevisível.
“EFETIVAMENTE, VISEU PODERÁ ACOLHER UM CERTO TIPO DE TRÁFEGO QUE NÃO
QUER IR PARA O AEROPORTO SÁ CARNEIRO”
DD: Viseu tem condições para se tornar uma estrutura
aeroportuária alternativa, por exemplo, ao aeroporto Sá Carneiro, no Porto?
PS: Efetivamente, Viseu poderá acolher um certo tipo de tráfego que não
quer ir para o Aeroporto Sá Carneiro, porque é muito caro relativamente aos
preços de operação em Viseu, porque é muito demorado e burocrático, mas
principalmente porque existe mercado na região de Viseu para acolher uma
infraestrutura aeroportuária de pequena/média dimensão, mas moderna e ágil sob
todos os pontos de vista para ser atrativa. Não nos podemos esquecer do
potencial turístico da região do Dão, das Beiras e até do Douro, já para não
falar da indústria e comércio, mas em especial dos nossos emigrantes que já
hoje preferem o avião para virem a Portugal.
“AS ATUAIS CONDIÇÕES OPERACIONAIS, NOMEADAMENTE O CONSTRANGIMENTO NO
COMPRIMENTO DA PISTA, ESTÃO JÁ DESADEQUADAS PARA AS SOLICITAÇÕES TIDAS”
DD: As dimensões da pista e toda a infraestrutura de apoio
servem ou precisam de uma ampliação?
PS: As atuais condições operacionais, nomeadamente o constrangimento no
comprimento da pista, estão já desadequadas para as solicitações tidas. Lembro
que a TAP Express o ano passado já realizou 2 voos para Viseu, mas com várias
restrições por causa da pista. Relativamente a outras limitações, estamos em
crer que saberíamos encontrar soluções para viabilizar os voos solicitados,
haja boa vontade e dedicação de todos os intervenientes.
DD: Qual o futuro do aeródromo de Viseu?
PS: Quanto ao futuro, sabemos que o Aeródromo poderá ser um sucesso
para a região e um seu impulsionador económico, mas para isso será necessário
que a Câmara de Viseu, melhor, que todas as forças vivas da região de Viseu – autarcas,
empresários, comerciantes, professores, estudantes e a população em geral – se
unam e reclamem a execução do Plano Diretor de Desenvolvimento do Aeródromo já em
posse do Município de Viseu.
DD: Obrigado.
CURIOSIDADES DO
AERÓDROMO DE VISEU:
Sabia que nos anos de 2016 e 2017 passaram por Viseu quase
tantas aeronaves nacionais como estrangeiras
Nos dois anos foram 272 nacionais e 265 estrangeiras. Dentre
as estrangeiras, passaram aeronaves de Espanha, França, Reino Unido, Alemanha,
USA, Itália, Polónia, Suiça, Chipre, Bélgica, África do Sul, República Checa,
Canadá, Eslováquia, Holanda, Irlanda, Jamaica, Perú, Ilha de Man, Rússia e São
Marino.
Sabia que no aeróromo existe um serviço de socorros –
OSHKOSH (veículo de resgate de aeronaves e combate a incêndios), que utiliza um
triplo extintor (água – 11.366 litros, espuma – 1590 litros, pó químico – 750
kg/s)?
De facto existe este veículo e o seu débito é de 7.380
litros por minuto, o que quer dizer que, em caso de emergência, em menos de
dois minutos faz a descarga total do seu conteúdo.
Sabia que o aeródromo opera 7 dias por semana do nascer ao
pôr-do-sol e também tem condições para operar de noite?
Pois assim é. Para além dos sete dias por semana do sunrise
ao sunset também tem condições para receber voos noturnos.
Sabia que a TAP express já aterrou no aeródromo?
Embora com várias restrições devido à dimensão da pista,
sim, a TAP express já efetuou dois voos para Viseu.
Sabia que no aeródromo existe um serviço de abastecimento de
combustível para as aeronaves?
Existe e é mais barato 20% do que em Cascais e 45% do que na
Maia.
(Foto: Do Facebook de
Paulo Soares)