Se tivéssemos dúvidas de que a coligação está em estado de
choque e sem qualquer linha estratégica coerente e consistente para o nosso
país, a nível de ideias e de programa, bastaria ouvir o deputado do CDS,
Ribeiro e Castro.
Ele disse de uma forma cristalina o mal-estar que se vive no
governo e no quartel-general desta maioria de mero circunstancialismo. Disse
que se fez “tardiamente uma coligação que ainda não se sabe qual é o nome, que
vai apresentar umas linhas programáticas que ninguém aprovou e discutiu, que
também é uma coisa bizarra e estranha. Isto são erros”.
Vem isto a propósito da apresentação, sob pressão, esta
semana, pelo primeiro-ministro e pelo vice-primeiro-ministro das linhas
programáticas eleitorais da coligação para as próximas eleições legislativas.
Quer isto dizer que, depois de diversas declarações solenes
de Passos e de Portas de que só no final de junho dariam a conhecer o seu
programa, inopinadamente, decidiram levantar o véu, navegando, assim, ao sabor
dos pregadores oficiais.
É que António Costa, no cumprimento de uma estratégia, clara
e transparente, estava e está a cumprir o seu trajeto e nos próximos dias 5 e 6
de junho aprovará o programa eleitoral com que se submeterá ao sufrágio
popular.
Ou seja, o PS estava e está a suscitar a atenção exclusiva
dos portugueses e havia que travar esse entusiasmo e o debate público que
estava todo centrado nos socialistas. O debate que está a acontecer é sobre as
propostas que o PS submeteu ao escrutínio público.
Para além disso, o PS, já havia, há dois meses, apresentado
um novo rumo para a economia e para o desenvolvimento de Portugal, com a
apresentação do cenário macroeconómico, que teve o mérito de lançar o debate e
demonstrar que afinal havia e há outro caminho que não o governo, que nos
trouxe até aqui, até ao beco da destruição da economia e do aumento das
desigualdades sociais.
De qualquer modo saúda-se este golpe de asa do PSD e do CDS,
pois ele vai finalmente permitir efetuar um confronto democrático sobre as
propostas que a coligação tem para o futuro do nosso país e para verificarmos
se aquelas declarações recentes de alguns ministros (como por exemplo os cortes
de 600 milhões nas pensões) têm tradução eleitoral ou se vamos assistir à mesma
rábula eleitoral de 2011, em que prometeram uma coisa e fizeram precisamente o
oposto.
Apesar de se saudar esta entrada, da coligação, por
arrastamento no debate ela não disfarça a completa falta de rumo estratégico de
dois partidos que depois de declarações irrevogáveis se “casaram”
circunstancialmente. E quando assim é só resta ficar à deriva, como é o caso!
Acácio Pinto
Rua Direita