A mundividência surpreende-nos
constantemente. Agora estamos perante dois políticos, com responsabilidades
máximas na governação de Portugal, que de repente viraram a neologistas.
Estou a referir-me a Pedro Passos
Coelho e a Álvaro Santos Pereira.
Em menos de uma semana os dois convergiram
em atribuir significações inovadoras (!) à palavra desemprego. O primeiro
dizendo que desemprego significa oportunidade; o segundo dizendo que desemprego
é o coiso.
Utilizando, então, esta nova
lexicologia teremos, por exemplo, a seguinte possibilidade: O-desemprego-é-um-coiso;
coiso-esse-que-atingiu-o-valor-record-de-15%; mas-não-se-preocupem-porque-o-coiso-é-uma-oportunidade.
Frases possíveis, prevalecendo-nos
das novas significações de desemprego.
Num e no outro caso, em Passos e em
Álvaro, estamos perante atitudes, que poderíamos classificar como tiradas de humor,
se não fossem tão graves para quem sofre na pele o flagelo do desemprego. Para
quem, nomeadamente para esse verdadeiro exército de jovens, qualificados, que
não encontram em parte alguma uma oportunidade, sim uma oportunidade para
demonstrarem as suas competências e os seus saberes, pese embora as infinitas
diligências nas empresas e nas plataformas virtuais.
Mas tudo isto encaixa numa linha
ideológica conservadora. Numa linha para quem o desempregado é um mero número e
se estiver a consumir muitos recursos públicos só restará continuar a
cortar-lhe nas “regalias”, que para eles não são direito a uma vida digna por
parte de quem deu a sua quota-parte de esforço (trabalho) para a sociedade.
É descartar, como se de máquina
obsoleta se tratasse, quem deixou de ser necessário no sistema de produção cego
pelo lucro e acrítico quanto à forma.
Mas é uma batalha que temos que
travar. Temos que dizer bem alto que esta austeridade não é fonte de nada que
não seja aumentar o fosso entre ricos e pobres e remunerar exclusivamente o
capital em detrimento do trabalho.
Em Portugal o PS e António José
Seguro têm vindo a dizer alto e bom som que há um outro caminho. O do
desenvolvimento através do apoio à economia e ao trabalho. Aliás o PS tem
apresentado na Assembleia da República várias propostas nesse sentido, a última
das quais uma adenda ao tratado europeu que a direita chumbou.
Há, porém, indícios de mudança
generalizada de paradigma em vários locais do mundo. Em França houve uma
mudança. Ganharam os socialistas com Hollande. Dos Estados Unidos vem a voz de
Obama a colocar também a tónica no crescimento, a apontar um outro caminho. Na
Alemanha, Merkel perdeu todas as eleições regionais.
Ou seja, o tempo destes “neologistas”
liberais, destes especialistas em promover “o coiso” começa a esgotar-se. As
pessoas começam a perceber que os tempos são outros e sopram noutro rumo.