Avançar para o conteúdo principal

Nota de José Lapa sobre O Emigrante


Acácio Pinto (AP), traz hoje a terreiro, aqui em Viseu, o seu novo livro, O Emigrante. E o que importa reter desde já, este é o elemento fundamental e funcional da sua obra, é que AP é uma pessoa de bem. Alguém que bebe a utopia, tal qual eu, de que se todos lêssemos o mundo seria bem melhor; alguém que ilumina os lugares escuros da história (escravidão, analfabetismo, emigração, obscurantismo), porque no coração de uma boa utopia, pulsa a esperança.

AP calcorreia o país com esta boa nova, de que ler faz bem à saúde. Boa nova, porque estes tempos de chumbo planeiam o contrário, tornam-nos personagens de um filme de Fritz Lang.

A escrita de AP é simples, não simplista. Simples, por dever de comunicação e pedagogia.

Excelente. Este seu último trabalho fala da emigração, tema necessário num tempo de amnésia, em que os decisores esquecem que fomos e somos emigrantes e em que o mundo precisa de se encontrar num humanismo de partilha e de respeito.

Finalmente, este livro, aliás como o anterior, O Leitor de Dicionários, trata da questão da ficção.

E estará esta em crise?

A cineasta Bela Tarr, que realizou um filme a partir de um texto do Nobel László Krasznahorkai (A Melancoliada Resistência), diz: “Nunca senti que a literatura esteja em crise, sempre senti que nós estamos em crise”. Se entendermos o que este NÓS significa sociedades humanas e as suas crescentes invariáveis adversas, desumanas, concluímos da importância destes livros, como o de AP.

José Lapa, 20.12.2025, in Facebook

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...