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Crónica em três atos | Ato 3: Das bases para a minha opção presidencial

 



Aqui: Para ler o ATO 1 – Do que fomos, do que somos

Aqui: Para ler o ATO 2 – Do respeito pelas opções dos outros

Se nas duas crónicas anteriores dei corpo ao quadro de referências que me enformam e em que me movo, tentarei agora nesta delinear os aspetos que mais valorizo, no atual contexto, quanto ao nosso futuro. Quanto ao devir da nossa comunidade. De Portugal.

Não, não tenho a presunção de que este meu olhar seja o único e o verdadeiro, que seja o melhor referencial para responder aos desafios com que estamos confrontados. É tão só o meu. Criticável, com certeza.

São múltiplas as borboletas a bater asas no Pacífico!

Sim, são múltiplas.

Sejam as guerras que proliferam. Que germinam por todo o lado e nos entram pela casa dentro. Que influenciam e nos influenciam no dia-a-dia.

Sejam os gases. Os de estufa e os outros. Os das alterações climáticas. As cheias ou as secas que nos matam de excessos outrora improváveis nestes destinos comuns.

Sejam as terras pisoteadas ou as águas sujas. Destruídas umas e outras por interesses, quantas vezes indecifráveis, quase sempre sustentados em nebulosas estratégias que não divisamos.

Sejam os algoritmos que nos obrigam a ver, ouvir e ler aquilo que os seus ‘donos’ querem. A consumir os produtos da bolha. E que nos condicionam as opções políticas e de vida.

Sejam as filosofias radicais e radicalizadas. O policiamento do uso de palavras e expressões banidas dos dicionários do quotidiano…

Quem melhor responderá aos problemas?

Tendo em conta que, as nossas respostas têm por base um lastro de referenciais e de traços de caráter, o meu olhar estará focado naquele que eu entenda que não se amanhe aos ventos de circunstância. Que saiba ser farol. Independentemente dos discursos bem arranjadinhos e melhor aparelhados.

Não gosto que se (re)negue, taticamente, o ADN político. Que se plasticizem as palavras. Que se vistam uniformes de conveniência. Bem engomados e que, qual milagre, se tome a cor dos olhos de cada um.

É que são inúmeros os desafios a que é preciso responder e para mim o melhor é o que eu considerar ser o mais linear. O menos rebuscado a falar sobre a melhoria dos serviços públicos. Sobre os que demandam o nosso país. Sobre as desigualdades. Sobre os ataques à democracia. Ao ambiente. E sobre aquele que tiver uma ideia mais transparente e fundada sobre a demografia e o território e sobre o oceano imenso e essa plataforma continental infinda.

Bem sei que todos os candidatos terão respostas. Terão olhares sobre estes e tantos outros conteúdos. Todos.

Bem sei que não há candidatos puros. Sem alguma maleita. Porém, dentre os que se perfilam, o meu olhar virar-se-á para o mais genuíno. Para o que na minha interpretação for melhor garante do quadro constitucional e institucional. Para o que melhor interpretar o nosso passado, a nossa cultura e puder ser o melhor garante para o futuro.

Para aquele que eu considere corajoso, na adversidade. Que tenha o corpo calejado por decisões. Rigorosas. Sem cedências a ventos de conveniência. Que não vacile ante os engulhos. Que não mude de penteado ante ondas altaneiras. Que saiba superar as marés baixas. As nuvens negras. Com erros. Quem os não tem? Mas com a forma e o alcance do seu olhar. Sem filtros. E com a frontalidade da palavra. Da palavra usada na medida certa.

Não sou contra nenhum. Todos serão, são legítimos. Como legítima será a minha opção que ainda está em construção! Sim, mas já há os excluídos! Aqueles em quem não votarei!

Acácio Pinto, 30 de dezembro de 2025

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