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Intervenção do autor na apresentação de O Leitor de Dicionários


 

As minhas primeiras palavras são, naturalmente, de agradecimento.

À câmara, na pessoa do seu presidente, pelo prémio e pela organização deste evento.

Aos membros do júri (Helena Castro, Carlos Paixão, Zélia Silva), pela escolha, sob anonimato, da minha obra.

Ao meu querido amigo Ascenso Simões, com quem, já lá vai uma dúzia e meia de anos, trabalhei, era eu Governador Civil de Viseu, era ele Secretário de Estado da Proteção Civil. Trabalho intenso e duro, como são todos os trabalhos nesta área.

E permitam-me que me prevaleça desta oportunidade para, desde já, prestar o meu tributo ao cidadão e ao político Ascenso Simões, não pela magnífica intervenção que aqui deixou sobre o meu livro, mas pela sua frontalidade e desassombro no exercício de tantas funções públicas ao longo da sua vida. Pela genuinidade da sua participação cívica e política. É que nós podemos discordar, mas precisamos de pessoas assim que, sem tibiezas e calculismos, nos digam aquilo que pensam e apontem ao futuro.

Obrigado Ascenso Simões.

Ao grupo Sem Género pela disponibilidade para aqui ter vindo dar um excelente colorido musical a esta iniciativa, remetendo-nos, com as duas canções interpretadas, para os anos 60 e 70 do século passado.

E, last but not the least, a todos vós, que quisestes aqui hoje marcar presença, agradeço a todos e a cada um.

Vamos agora ao livro.

Em primeiro lugar, dizer-vos a quem este livro é dedicado.

– “aos trabalhadores das palavras”, ou seja, a todos quantos se dedicam a aprofundar as origens, os significados e a evolução que as palavras, como entidades vivas que são, têm ao longo do tempo. Professores, autores, escritores, lexicógrafos, investigadores… afinal, a todos nós que utilizamos as palavras como “um cristal”, como um “punhal”, como um “incêndio” ou como “orvalho apenas”, para parafrasear Eugénio de Andrade.

E este livro também é dedicado

– “àqueles que fazem do lema vida por vida as suas palavras”, ou seja, a todos quantos, de dia ou de noite, se entregam a ajudar e a prestar socorro ao seu semelhante. Tolerem que, nas pessoas do César Fonseca e do Henrique Pereira, primeiro e segundos comandantes distritais da proteção civil à época em que eu fui governador civil de Viseu e o Ascenso era SE da proteção Civil, tribute um preito de respeito e homenagem a todos os que participam nas ações de proteção civil, ontem, hoje e amanhã.

É, pois, para todos os agentes de proteção civil esta dedicatória do livro e creio que ela será melhor compreendida aquando da leitura da obra.

Então vamos agora ao livro, vamos falar de O Leitor de Dicionários.

E que tenho eu para vos dizer?

Não é muito, pois não o irei aprofundar. Os oradores que me precederam já o dissecaram que chegasse.

Portanto, da minha parte irei dar-vos alguns aspetos mais pitorescos.

Primeiro: Quem é o leitor de dicionários?

Pois bem é uma personagem, ficcionada, Alberto, que nasceu numa aldeia do concelho de Sátão, em Rãs, em 1950 e que foi estudante aplicado, desde a escola primária, seminário, colégio, liceu e universidade, formando-se em Filologia Clássica, em Coimbra.

Cumpriu serviço militar em Timor e deu aulas depois no liceu de Viseu.

E mais não digo.

A inspiração para o título do livro veio dos antigos cadernos de significados!

E de onde vem a inspiração para o título, O Leitor de Dicionários?

Pois bem, o título teve por base os cadernos de significados, de que alguns dos presentes bem se lembram. Eram caderninhos utilizados para cada estudante escrever, na disciplina de português, o significado das palavras difíceis. E, tendo como ponto de partida esse pormenor, foi criada a personagem principal, Alberto, que era obcecada pelos estudos e, concretamente, por ter o seu caderno de significados sempre muito bem organizado. E, com o avançar dos anos de estudo, foi ver Alberto a dedicar-se aos dicionários e aos elucidários, em pesquisas intermináveis, até querer saber qual era a palavra, de todas as das mais de 1500 páginas do dicionário da Porto Editora, com maior número de carateres.

E de onde veio a informação que subjaz ao romance? A informação sobre os locais e os acontecimentos onde se desenrolam as cenas? Onde se desenvolve esta ficção, porque de uma ficção se trata?

Bem, a maioria da informação utilizada pelo narrador veio das vivências do autor ao longo da sua vida, porém, há locais e cenas cujas fontes foram diversas.

Façamos então uma breve cronologia.

Sobre o seminário de Fornos de Algodres, espaço que a personagem principal frequentou?

A fonte, neste caso, foi o meu irmão, Jorge Pinto, que por lá andou durante vários anos, e foi também A Manhã Submersa de Vergílio Ferreira.

Já sobre o conhecimento dos meandros e da vida no Colégio Tomaz Ribeiro, a informação veio de leituras de artigos de várias revistas que abordam o tema e ainda de uma conversa com o presidente Alexandre Vaz que por lá passou alguns anos enquanto estudante e que, sem se aperceber, me deu vários pormenores da vida de um aluno interno.

Quanto ao Liceu Nacional de Viseu. Muito do conhecimento adveio da minha vivência naquela escola nos anos 70 e de leituras várias por bibliografia dispersa, mas também resultou de informação que, por exemplo, o António Aires de Matos me facultou sobre os tempos em que o seu pai lá foi reitor.

E impõe-se aqui fazer, desde já, um esclarecimento. Tratando-se de uma ficção, há porém várias personagens no livro que têm o mesmo nome de personagens históricas, algumas ainda vivas, e que são, portanto, factualmente verificáveis. Essas personagens constituem pontos de referenciação para o leitor. Alguns exemplos: Reitor do liceu, Aires de Matos; bispo de Viseu, dom José Pedro; diretor do colégio Tomás Ribeiro, Teófilo da Cruz; aluno de direito, em Coimbra, em 1969, Alberto Martins; mestre do ferro forjado, Arnaldo Malho; autor do elucidário, Frei Joaquim de Santa Rosa Viterbo.

A geografia do livro é muito diversa: Sátão, Fornos de Algodres, Tondela, Viseu, Coimbra, Cinfães…

E todos estes exemplos estão associados a locais concretos na obra. Sejam, Liceu Nacional de Viseu, sejam a diocese de Viseu, o colégio Tomaz Ribeiro, em Tondela, ou a Faculdade de Letras, o teatro Gil Vicente e as escadas monumentais, em Coimbra, ou o convento da Fraga, o Senhor dos Caminhos e o rio Vouga, no concelho de Sátão, ou a Gralheira, a serra do Montemuro e os aerogeradores, o Hotel de Porto Antigo, o rio Bestança e o Douro, em Cinfães.

Sobre a cidade de Viseu nos anos 60 e 70, para além do conhecimento pessoal e de conversas com diversas pessoas, o conhecimento assentou também em fotografias antigas da cidade. O arranha-céus e avenida Salazar, o parque da cidade, a rua Formosa e as pastelarias Horta e Santos, as agências de viagens Novo Mundo e Barbosa, a papelaria Lúmen, os cauteleiros, a escola de condução Azevedo Pinto.

Mas há também, no livro, acontecimentos factualmente verificáveis. Um deles é o de dois seguranças terem, no final de novembro de 2008, ficado retidos nos aerogeradores da serra do Montemuro, devido a um nevão e só tendo comida e aquecimento para 24 h. O helicóptero não podia ir buscá-los devido às más condições atmosféricas e foi necessário recorrer a motos de neve dos bombeiros de Seia. Ou a morte de um bombeiro de Cinfães no rio Douro em 2007.

Portanto, já começarão a perceber, que o livro tem duas grandes áreas subjacentes: a de um estudante, professor, área da educação e a da proteção civil, cuja conexão terão oportunidade de constatar aquando da leitura.

Ainda sobre a proteção civil: Os detalhes das conferências de imprensa, as fugas de informação, as dificuldades que se colocam nas tomadas de decisão em casos complexos.

Sobre outro aspeto, como sejam, o preço de um Toyota Corolla em 1975, não tendo conseguido obter a informação a partir de sites, de leituras, socorri-me de amigos. O professor Clemente que me deu um valor e a família do Marcelo de Ferreira de Aves que me deu outro valor e cheguei a um valor aproximado.

E digo-vos isto, porquê?

Porque os romances, apesar de serem narrativas ficcionados, têm de ter uma base real, nos enquadramentos e nas circunstâncias, para que o leitor leve a sério aquilo que está a ler.

Finalmente, dizer-vos do enorme gosto que tive em escrever esta narrativa. Do enorme gosto que tive em receber o prémio literário, uma demonstração de que aquilo que produzimos foi do agrado do júri, esperando, agora, que também venha a ser do vosso agrado.

No caso do anterior, O Volframista, o número de edições efetuadas e as críticas favoráveis que lhe foram feitas, dizem bem do seu sucesso e do agrado que os leitores demonstraram um pouco por todo o país, tendo-me surpreendido tamanha adesão.

Espero, portanto, que este vá pelo mesmo caminho.

Uma palavra final para agradecer aos revisores do texto. Ainda em bruto, o texto foi lido pela Ana Luísa, pelo José Pedro e pela Cláudia, depois, já em pormenor, a revisão final foi efetuada pela Ana Gil, professora de Português, do Agrupamento de Escolas de Sátão.

Obrigado a todos, pela presença, pela amizade e votos de que este O Leitor de Dicionários vos agrade e, ao mesmo tempo, vos cause um movimento interior de reflexão sobre as contingências da vida.

Muito obrigado.

Acácio Pinto

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