O livro A Nuvem de Smog e a Formiga Argentina não é bem um
livro, é uma metáfora destes tempos hipermodermos em que vivemos. E Italo
Calvino, o seu autor, visionário, visionou-os e deu-nos a conhecer esta
amálgama de uma forma fria, crua e direta. Em que as personagens servem esse
seu objetivo. Se encaixam nestes meandros tecidos de hipocrisia e de
conformismo. Da relação de homens com uma realidade, que é a sua e que se lhes
cola à pele.
E, sim, mais do que palavras e conceitos, de frases e de
ideias escritas sobre o mundo em que vivemos, ele é cronista destes tempos
através de um ideograma, de ideogramas que nos revelam, que nos desvelam os
conceitos que nos envolvem o corpo, que nos entram pelas narinas, que se
enleiam no ar que nós respiramos em cada rua que palmilhamos e em cada dia que
passa.
Smog, ar maculado, impuro, contaminado por todas as
impurezas químicas e físicas, por todas as dificuldades que no quotidiano nos
tolhem os movimentos de uma libertação que tardamos em encontrar, de um advento
que não passa de uma miragem, desde o tempo inicial, e a cujo nascimento nunca
chegamos.
Formiga argentina: qual combate qual quê? O que importa é
alimentá-la, é defendê-la é multiplica-la. Ela dá-nos o pão nosso de cada dia.
Quantas mais melhor. Aumenta o número de trabalhadores para a combaterem, de
fornecedores de veneno ou de vitaminas?, de supervisores, de chefes.
Uma leitura suculenta, para fazer com um olhar inconformista!
Título: A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina
Autor: Italo Calvino
Editora: Teorema
Páginas: 164