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Acácio Pinto apresentou revista Burel

 


LETRAS E CONTEÚDOS

No dia 30 de junho, no Auditório Municipal Carlos Paredes, em Vila Nova de Paiva, Acácio Pinto apresentou a revista Burel nº 7, uma revista semestral editada pela Junta de Freguesia do Touro, concelho de Vila Nova de Paiva.

Intervieram também, a abrir, o presidente da Junta de Freguesia do Touro, Mário Morgado e a encerrar o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Paiva, Paulo Marques.

Esta revista que visa divulgar os costumes, as tradições e as gentes da freguesia, tem também um grande foco nas atividades que vão decorrendo e sendo executadas no seu território.

No final das intervenções foi efetuada uma visita à exposição “Tear da Memória – Os Rostos da Burel” que abriu hoje e que vai estar patente ao público no Auditório até ao dia 31 de julho.

INTERVENÇÃO DE ACÁCIO PINTO

Em primeiro lugar, um especial agradecimento ao Mário Morgado, ilustre presidente da Junta de Freguesia do Touro, por este, para mim, tão inesperado quanto honroso convite, para vir apresentar esta edição da revista Burel, a número 7, de junho de 2024.

Vir, pois, às Terras do Demo, mais de cem anos após o seu batismo pelo Mestre, apresentar uma revista que tão bem ilustra e interpreta o espírito e a cultura deste território e das suas gentes só pode constituir um enorme orgulho. Orgulho que, mais do que eu, e tenho essa profunda convicção, têm as gentes da freguesia do Touro, cuja autarquia deu à luz em boa hora esta magnífica brochura. Orgulho que, afinal, e deixem-me generalizar, terão, igualmente, todas as pessoas do concelho de Vila Nova de Paiva, que nela, seguramente, se reveem, uma vez que as fronteiras culturais deste planalto altaneiro só o são em termos administrativos.

A umbilicalidade da cultura e das tradições que se entretecem, nestas mais de 50 páginas, com os rostos carregados de História e de estórias, que nos são aqui apresentados, são a prova disso mesmo, de uma unidade alargada e indissociável, legada ao longo de séculos e séculos de uma vida mística e mítica destas terras pródigas de gentes inteiriças de coluna.

Sim, temos aqui tradições, saberes, ritos e rituais que são do Touro e das águas do Côvo, com certeza, mas também são, e são-no de verdade, culturas e rostos de toda uma vasta área geográfica envolvente. Falamos de gentes que colheram o seu pão e o conduto nas vertentes delgadas da serra e nas terras gordas dos férteis lameiros que vivem paredes meias com os ribeiros. Falamos de rostos que cresceram quando os lobos uivavam e as trutas saltavam em busca do gafanhoto ou do grilo em dias de trovoada violenta. De homens e de mulheres das serranias da Nave, de pele calejada nas veredas e trilhos atrás do gado ruminante que só se açaimava ao chegar às lameiras verdejantes que conheciam de cor. Sim, falo de pessoas de rija têmpera, gente lhana, de uma rudeza doce, sempre pronta a saciar-nos a sede em dias cálidos ou a aquecer-nos as entranhas junto às cepas de urze sob as suas telhas quando o códão rilha, debaixo dos nossos pés peregrinos.

Como viram e ouviram, não vos apresentei, até agora, a revista.

Não vos falei diretamente da Burel nº 7 que aí está. Que tendes entre mãos.

Falei-vos de pessoas. De gente. De povo. De um povo. Falei-vos de uma terra. De um espaço. De um território.

Falei-vos de cultura. De tradições.

Falei-vos daquilo que, verdadeiramente, pode ser distintivo, identitário, singular quando estes tempos da hipermodernidade, que estamos a trilhar, tudo tendem a normalizar e a padronizar.

Sim, falei-vos da alma deste território. Das suas idiossincrasias. E falei-vos das rugas que os povos sulcam nas terras que os abrigam e do respeito e interação que entre si estabelecem. Sempre estabeleceram.

Afinal, falei-vos e falo-vos, indiretamente, desta Burel e daquilo que escorre de cada uma das suas suculentas páginas.

Que é a sustentabilidade. Que é o desenvolvimento sustentável. Conceitos tão cruciais quanto tão tratados com cinismo têm sido nas liturgias internacionais.

Esta revista, qual epifania, é uma areia no meio do deserto, bem sei, é uma gota de água no meio do oceano. Mas é um começo. É um dealbar a juntar a alguns outros que vão germinando neste nosso Portugal e neste Mundo, que teima em não acordar para as evidências de um fim à vista.

Ainda bem que há alguém que quer percorrer estes trilhos. Que há uma ideia para um território que pretende continuar a cultivar o cimento secular que o projetou até hoje. Que, afinal, há autarcas e autarquias que querem cuidar da casa comum Da sua polis.

Que belos fios fiaram os fiadores desta Burel. Que belos tecidos teceram os tecelões desta revista. Que belos nacos de prosa e que magnificentes fotografias eu pude e vós podereis degustar, quando folheardes, uma a uma, as páginas deste magazine, do Outro Olhar, do José Campos e do João Morgado.

Li-os todos. Li todos os textos. Vi-as todas. Vi todas as paisagens aqui estampadas. Perscrutei-os todos. Perscrutei todos os rostos e perdi-me nas palavras ditas. Através deles todos vi-me jovem guardador de cabras, não de vacas, como o Zé Morgado, de pescador de bogas e fardetas, não de trutas, como o António Pedro, o Mário Cardoso e o António Martinho.

Mas também gostei de viajar, sob o design da Ana Cristina Fernandes:

– com os conceitos paisagísticos do João Ruano e de turismo sustentável da Cristina Barroco;

– com a prosa histórico-religiosa do padre Justino Lopes, em torno do cónego Alfredo Ferreira Morais Martins e da capela de São João;

– pela poesia do Jorge Lages

– com as palavras saídas do bornal do Amadeu Araújo;

– e com a visão de futuro do Mário Morgado, que em jeito de editorial, traça os desafios para o seu território, para a sua terra e para as suas gentes!

Minhas queridas e meus queridos amigos do Touro, de Vila Nova de Paiva, das serranias da Nave e das Terras do Demo, em suma, deixem-me utilizar a muito conhecida frase de Aquilino Ribeiro, e que passo a citar, “O pior dos crimes é produzir vinho mau, engarrafá-lo e servi-lo aos amigos”, para eu vos dizer, em oposição a ela, que “A melhor das ações é produzir uma revista boa, é dar-lhe uma boa capa e um bom conteúdo e é oferecê-la aos amigos, aos amigos todos, sem exceção”.

Termino, pois, como comecei, com um agradecimento ao Mário Morgado por este convite e os meus parabéns a todos os autarcas da freguesia do Touro e, afinal, do concelho de Vila Nova de Paiva, pelo trabalho em prol das suas terras e das suas gentes e que teimam, volvidos 50 anos sobre o 25 de abril, em prosseguir o sonho da liberdade e do desenvolvimento em cada dia que passa.

Viva a Burel, viva o Touro, viva Vila Nova de Paiva, vivam as Terras do Demo.

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