Elvira Fortunato, cientista, presidente da comissão
organizadora, este ano, das comemorações do dia 10 de junho, deixou palavras
inspiradoras aos portugueses a partir de Lamego. Colocou a tónica no
conhecimento, na ciência, na juventude, como molas impulsionadoras do
desenvolvimento do país. Disse mesmo que "não podemos desperdiçar esta
mais-valia [jovens especializados e competentes] e há que tirar retorno do
grande investimento que foi feito, caso contrário outros farão isso por nós.
Não podemos deixar que jovens altamente especializados abandonem
Portugal". E acrescentou, que se estes jovens saírem de Portugal que o
seja "por opção, mas não por obrigação".
Uma mensagem de longo alcance e que por si só encerra uma
profunda e transversal estratégia de desenvolvimento para o nosso país.
É que não basta falar, hipocritamente, por exemplo, de
natalidade e depois não cativar os jovens, não estimular os jovens, e nada
fazer para que todo o seu manancial empreendedor não seja colocado ao serviço
da construção de um Portugal de futuro.
Elvira Fortunato, por outro lado, não deixou ainda de
ressaltar que o investimento em ciência tem um ponto focal, tem uma marca, que
se chama Mariano Gago, ele que foi ministro da ciência de vários governos socialistas
e que recentemente nos deixou. A presidente das comemorações vincou bem que ele
"teve a visão e a ousadia de fazer uma aposta na área da ciência, como
mola motora do desenvolvimento e criadora de riqueza substantiva". Aliás
não foi por acaso que, entretanto, a Rede Europeia de Centros e Museus de
Ciência criou o prémio Mariano Gago.
É assim, com esta visão linear, com esta visão política alternativa,
que as pessoas se distanciam dos mitos urbanos do governo e das minudências
discursivas do orador que se lhe seguiu na sessão solene das comemorações,
Aníbal Cavaco Silva.
Este quis voltar a ser aquilo que sempre foi, um defensor
intransigente das políticas deste governo. Mais uma vez, Cavaco Silva, de
megafone em riste, vai de elogiar as políticas que estão a asfixiar os
portugueses. As políticas da emigração dos jovens, da regressão da economia, do
aumento da dívida pública, do retrocesso na educação e ciência, do aumento da
pobreza e da precariedade e da desqualificação do serviço nacional de saúde e
até, recentemente, elogiou a privatização da TAP. Ao que chegámos!
Valha-nos pelo menos o facto de Cavaco Silva ser o inquilino
de Belém mas em fim de ciclo, um inquilino que não deixa nenhumas saudades à
grande maioria dos portugueses a avaliar pelos estudos de opinião mais
recentes. É um presidente que há muito se ausentou de interpretar os
portugueses para se transformar em “agente” do governo em Belém.
Acácio Pinto
Deputado do PS