Avançar para o conteúdo principal

[opinião] Orçamento de estado 2015: um plágio dos anteriores!

Se alguém esperava que o último orçamento de estado da maioria, o de 2015, iria romper com os paradigmas orçamentais com que temos estado confrontados, enganou-se.
Na realidade de nada valeram aquelas dezoito longas horas do conselho de ministros, até de madrugada, para que a austeridade e a carga fiscal sobre os portugueses fossem reduzidas, muito pelo contrário, ambas foram reforçadas.
E foi neste contexto que o grupo parlamentar do PS decidiu votar contra este orçamento, um orçamento típico de um governo sem soluções, de um governo esgotado, mas também de um governo sem qualquer arrependimento, depois de tanto ter massacrado os portugueses, nomeadamente os trabalhadores, os reformados e os pensionistas, com os resultados que estão à vista: aumento da dívida e destruição da economia.
Quanto ao rigor dos números que nos são apresentados também não estaremos melhor se pensarmos que nos três anos de mandato o governo confrontou os portugueses com oito orçamentos retificativos. Isto é, tendo-se enganado tantas vezes no passado nenhuma garantia temos de que tal não volte a acontecer (e vai acontecer!) no futuro.
Um total fracasso, pois, de toda a fanática estratégia orçamental delineada por Passos e Portas, vai em mais de três anos.
O aumento, de última hora, do défice, de 2,5% para 2,7%, ainda poderia ter um sentido positivo, se ele encerrasse um aumento do investimento produtivo, ou um maior apoio às famílias. Porém, nada disso, é pura e simplesmente por incapacidade de bem gerir as finanças públicas.
É que assistimos a cortes brutais nas áreas sociais, como sejam a educação, que contará com menos 700 milhões, ou as prestações sociais não contributivas, onde se criará um teto que afetará os setores mais fragilizados da população.
Portanto, depois dos cortes efetuados no complemento solidário para idosos, no rendimento social de inserção, ou no subsídio de desemprego, prossegue-se a saga de ataque sempre aos mesmos e exoneram-se, também, sempre os mesmos do esforço para o equilíbrio das finanças públicas.
É assim, com estas opções orçamentais dos últimos anos, que se compreende um pouco melhor o facto de 30% dos milionários portugueses – indivíduos com mais de um milhão de dólares de riqueza líquida – terem surgido nos últimos dois anos, segundo um estudo internacional, divulgado recentemente pela comunicação social. Ou seja o flagelo da desigualdade na distribuição da riqueza prossegue e até se está a alastrar como fica demonstrado por este recente estudo e pelas opções orçamentais para 2015.
Quanto à devolução da sobretaxa de IRS (acerto em 2016), estamos perante uma manobra medíocre e rasteira, e uma forma de tentar iludir os portugueses, uma vez que a carga fiscal aumentará mais do que a riqueza, querendo dar-se a ideia de que se devolverá no futuro parte dos impostos pagos.
Apetece dizer: plagiem o exemplo do secretário de estado da educação e vão-se embora!
Acácio Pinto
Diário de Viseu

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...