Avançar para o conteúdo principal

[opinião] Arranque do ano escolar: sempre a piorar!


Vivemos, de facto, tempos muito difíceis na área da educação merecedores de uma profunda preocupação da sociedade portuguesa e dos agentes educacionais em particular.
E esta preocupação e perplexidade, até, são maiores quanto mais vamos ouvindo aquilo que Nuno Crato e o seu ministério nos vêm dizendo relativamente ao arranque deste ano letivo. A questão configura mesmo um verdadeiro paradoxo quando se tratam como normais todas as anormalidades relacionadas com aquilo que se passa nas escolas.
Ousamos mesmo dizer que quando o ministério da educação considera que tudo o que está a acontecer nas escolas portuguesas, neste início de mais um ano letivo, é normal, então está tudo dito quanto ao grau de irresponsabilidade política que atravessa este governo.
E isto porque bastará que cada um de nós tente responder a perguntas muito simples para perceber aquilo que está em causa.
Ei-las.
Então é normal que só se coloquem os professores a 9 de setembro, já depois do ano escolar se ter iniciado a 1 de setembro, e a escassos dois dias do início das aulas?
Então é normal que se “brinque” desta forma tão despudorada com a vida de milhares de professores que se veem confrontados com uma colocação, já em tempo de aulas, numa escola em que não participaram nas atividades iniciais?
Então é normal e digno que se obriguem professores a terem, de imediato, de encontrar nova casa para viverem e nova escola para os seus filhos, que em muitos casos os têm que acompanhar?
Então é normal termos um concurso que apesar de todos estes atrasos ainda vem enxameado de erros?
Então é normal termos escolas, ainda hoje, com escassez de pessoal não docente devido a aposentações e a rescisões de assistentes operacionais não substituídos?
Então é normal iniciar-se o ano letivo com escolas do 1º ciclo que não se sabe se se irão manter abertas ou encerrar face a diversas providências cautelares colocadas pelas autarquias?
Bom, a todas estas perguntas creio que qualquer português terá que dar a adivinhada resposta: não, não é normal.
Tudo isto a que estamos a assistir e que não é normal resulta de uma completa falta de planeamento no ministério da educação que deveria fazer corar de vergonha o ministro Nuno Crato.

Apesar de tudo, três anos de (má) governação, três anos para esquecer, deveriam ter permitido, a Nuno Crato e à sua equipa, efetuar outras aprendizagens!
Acácio Pinto
Diário de Viseu de 2014.09.16

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...