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(Opinião) O programa "nim" do PSD

Começamos a estar muito habituados aos programas do PSD desde que Passos Coelho ascendeu à liderança: as suas opções são no actual momento, mas deixam de o ser logo no momento seguinte; as suas opções avançam e recuam de acordo com as reacções expressas nas sondagens e nos comentários televisivos.
Foi assim quando Passos Coelho elegeu a revisão constitucional como a reforma das reformas, quando disse que só a mudança da constituição poderia resolver todos os problemas com que estamos confrontados, quando, como sabemos, eles são consequência de uma conjuntura internacional negativa.
Nessa altura propuseram-se atacar o Serviço Nacional de Saúde, privatizar a segurança social, despedir sem justa causa e desqualificar a escola pública.
Pois bem, face às reacções contrárias e às sondagens, lá evoluiu para uma proposta que escondia e maquilhava as suas verdadeiras ambições. Já não era bem assim aquilo que eles queriam.
Mas foi também assim quando o PSD chumbou o PEC IV e, com esse gesto, lançou o país numa grave crise política que agora estamos a atravessar. Dizia o PSD que não havia necessidade dessas medidas, que os portugueses não poderiam ser mais penalizados.
Pois bem, face às “classificações” que as empresas de rating nos começaram a atribuir e aos juros que começámos a pagar, Passos Coelho desdobrou-se em declarações, algumas em inglês, de que o PSD respeitaria os compromissos internacionais de Portugal, que o PSD estava determinado no abaixamento do défice e na regularização das contas públicas.
Mas foi também assim quando pediram a Passos Coelho medidas para combater a actual crise e que ele logo sintetizou em duas, emblemáticas: aumentar o IVA para 25% e privatizar a CGD.
Pois bem, face às críticas do IVA ser um imposto cego, toda a direcção social-democrata ficou em polvorosa e começou por dizer que não era bem assim quanto ao seu aumento e que afinal não queriam privatizar a CGD. É que até o actual presidente da CGD, Faria de Oliveira, ex-governante do PSD, veio dizer que "não deve ser privatizada", sublinhando "a função fundamental que desempenhou nos últimos anos, de apoio à economia, na estabilidade do sistema financeiro e no financiamento da República". Em entrevista ao Público, o presidente da CGD garantiu ainda que, apesar das dificuldades de financiamento o banco vai apoiar as "boas empresas e os bons projectos".
Muito mais haveria para dizer, mas não vou trazer à colação mais nenhum elemento.
O que importa é que todos começamos a ter, bem, a sensação de que com Passos Coelho e com este PSD todos os “tiros”, todas as propostas, todas as medidas poderão vir a ser alteradas, muitas, em menos de 24 horas.
Ou seja, Passos Coelho está refém. Está preso a um conjunto de interesses e de estratégias liberais e de direita das quais não se consegue libertar. E um político, um candidato a primeiro-ministro não pode, nunca, hipotecar a sua soberana capacidade de decisão, que lhe advém do povo, por meros jogos de corredores e de distribuição de benesses àqueles que são os seus criadores e verdadeiros decisores.

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