Fé, arte, cultura e património no concelho de Sátão*

[* Texto de abertura do colóquio “Património religioso, arte, fé e cultura” que se realizou no dia 27 de janeiro na Casa da Cultura de Sátão]
Desde sempre que na génese da criatividade humana, do movimento da humanidade, esteve a fé.
Tanto esteve ontem como hoje está, tem que estar, dentro de cada um de nós essa inquebrantável atitude de acreditar. Traduza-se ela numa adesão absoluta a ideias ou princípios religiosos, ou numa crença profunda nas nossas capacidades de projetar, de fazer.
Mas, porventura, a vertente da simbiose, fecundante, diga-se, entre a adesão aos princípios religiosos e a crença nas capacidades humanas, tenha sido aquela, foi aquela, que mais arte e património gerou em todas as civilizações; tendo na sua génese a batuta e o escopo de milenares artistas e arquitectos, ou tendo a pá e a picareta de tanto povo anónimo como o nosso.
E é precisamente esta vertente que aqui hoje nos traz. Falar da arte, do património religioso, da cultura, que temos na nossa terra, no nosso concelho, fruto da fé, dessa fonte de energia primícia. Que temos no nosso território disseminada por igrejas, capelas e conventos, fruto dessa fé forte, dessa fé dura, dessa fé tantas vezes crua, mas tão genuína, de tantos dos nossos que ontem quiseram assinalá-la através deste vasto legado que nos chegou até hoje, até aqui, até agora. Desta herança tão diversificada e tão rica, tão multifacetada e tão valiosa. Seja nos retábulos, nos cálices da consagração, nas talhas, nas procissões, nos santos padroeiros, nos sinos altaneiros ou nas pedras esculpidas do chão da igreja assinalando que ali jazem homens e mulheres que ontem os seus pares quiseram perpetuar.
Aqui estamos, pois, para debater, sobretudo para falar do património, da arte, da cultura, da fé. De elementos que sempre acompanharam esta deriva do homem, esta nossa deriva, neste cosmos que nos envolve e de que somos parte integrante. Para reflectir em torno destes temas tão perenes, mas sempre tão atuais. Para convosco interagirmos sobre estes valores que venceram e vencem, todos os dias, as barreiras do esquecimento.
Para interagir connosco convidámos Fátima Eusébio, dispensa apresentações, é doutorada em História da Arte, professora universitária com vasta obra publicada e neste momento a desempenhar funções no departamento dos bens culturais da diocese de Viseu. Convidámos, igualmente, José Cardoso, pároco de Sátão, Mioma, Rio de Moinhos e São Miguel de Vila Boa e arcipreste do arciprestado do Dão. E connosco temos também, Carlos Paixão, mais do que professor do Agrupamento, também ele um apaixonado pelas questões culturais, pelo património e com vasta obra publicada.
É pois através deles e com eles e convosco que hoje aqui queremos estar e daqui queremos sair um pouco mais, um tudo-nada, enriquecidos, mas sobretudo daqui sair com um maior sentimento de pertença.
Da minha parte tentarei moderar, moderadamente. Obrigado a todos.
Foto: Miguel Azevedo | Alive FM