[opinião] Surrealismo político!

Estamos a viver tempos de surrealismo político elevado à máxima potência, pese embora o facto de eu até ter simpatia por esse movimento, mas na vertente artística e literária.
É que, na vertente política, pensávamos, até estes episódios de demissões que envolveram (até ver) Vítor Gaspar, Paulo Portas e Passos Coelho, que as coisas obedeciam à lógica, à racionalidade e à objetividade.
Neste caso, a coligação é formada por dois partidos políticos e quando o líder de um dos partidos, Paulo Portas, apresenta a “demissão irrevogável” restaria ao primeiro-ministro, Passos Coelho, não só aceitá-la como retirar daí todas as consequências políticas, ou seja, que a coligação acabou e que mais não lhe restaria do que dirigir-se a Belém e solicitar ao seu inquilino que assinasse a certidão de óbito deste governo, defunto há muito.
Pois bem, Passos Coelho não só não aceita a demissão, como desfere um fortíssimo ataque ao seu parceiro de coligação e diz que não abandona o seu país, num hino de hipocrisia suprema.
É um homem sem rasgo, que não revela honestidade intelectual, que está neste processo com uma absurda infantilidade política.
É evidente que por mais que Passos Coelho e o PSD digam que não abandonam o país, eles já foram abandonados pelo povo e agora pelo CDS. Nada mais há para esclarecer, nada mais há para dizer, que não seja, acabou e quer queiramos quer não só há uma solução, eleições, como vem dizendo o PS e como disse António José Seguro na declaração política após as palavras do primeiro-ministro.
Este governo foi sempre um foco de completa instabilidade, foi sempre o centro de todos os problemas: matou a economia do país, aumentou de forma trágica o desemprego, incentivou de forma irresponsável a emigração, fez disparar de forma inadmissível o défice e a dívida pública atingiu valores irrecuperáveis pelos métodos que se aprendem nos manuais.
Aquilo a que estamos a assistir na praça pública, por parte dos atores políticos da coligação, é aquilo a que Pedro Silva Pereira chamou de “responsabilidade do falhanço”. Estão a tentar passar para o adversário toda a responsabilidade por este desastre a que nos conduziram.
Com certeza que vamos continuar a assistir, nestes dias, a ataques e contra-ataques entre PSD e CDS, às mais disparatadas e surreais retóricas político-partidárias, mas o resultado não pode ser outro que não o da dissolução da Assembleia da República e da convocação de eleições legislativas antecipadas.

Resta-nos aguardar um lampejo final de bom senso em Belém.
Acácio Pinto (2013.07.03)
Diário de Viseu